MEDITAÇÃO SOBRE A PAIXÃO DO SENHOR XXXV


Diz o Salmista: "Na presença dos anjos vos cantarei, Senhor" (Sl 137,1).

A obra que mais glorificou o Padre Eterno foi o Sacrifício de Seu Filho. Glorificou-o tanto que todos os sacrifícios antigos eram apenas sombra deste e após a Paixão do Senhor nenhum sacrifício que não esteja unido a este não têm o menor valor diante de Deus.

Por isso, convém-nos considerar o mistérios dos Anjos diante do mistério da Paixão. Os anjos possuem um conhecimento imediato, dedutivo de todas as coisas, mas não lhes é dado conhecer o futuro, assim, à medida em que avançavam os passos da Paixão tanto mais se admiravam os anjos. Admiravam-se pela obediência incondicional do Filho, admiravam-se pela fidelidade e compaixão da Santíssima Virgem, mas admiravam-se também da crueldade dos homens.

A visão de Deus é o alimento dos anjos. Compreendei o que significou para os anjos contemplar a Deus crucificado!

Muitos artistas representaram os anjos recolhendo o Preciosíssimo Sangue em taças de ouro, outros os representavam em lágrimas. Nada disso era visível aos olhos dos homens - que se tivessem esse conhecimento não teriam crucificado o Senhor da Glória... Mas era a admirável compaixão dos anjos que esperavam um comando de Deus para pôr fim a todo tormento de Nosso Senhor, mas essa ordem não veio.

Ali estava o Anjo que paralisou a mão de Abraão. Por sobre a Cruz subiam e desciam os mesmos anjos que Jacó vira em Betel. Ali estava o anjo que exterminou os primogênitos dos egípcios. Ali estava o Anjo que impediu o caminho da mula de Balaão...  Todos eles diziam: "sed tantum dic verbo..." "dizei uma só palavra!" Mas nem o Padre Eterno, nem o Filho Santíssimo, nem o Divino Espírito Santo ordenaram aos anjos que exterminassem os blasfemadores, que castigasse o povo deicida, que matasse os covardes que se deixaram levar pela opinião da maioria...

Nada.

Ali não era hora da ação. Mas do sacrifício. Não era hora de fazer, mas de obedecer.

E os anjos estavam ali, colhendo cada gota do Sangue do Senhor para marcar a nossa fronte nas horas em que somos covardes, em que cedemos à tentação, em que não encontramos força para continuar.

 

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