MEDITAÇÃO SOBRE A PAIXÃO DO SENHOR XXXIV

 

Michelangelo. Os anjos trazem os instrumentos da Paixão no Juízo Final. Capela Sixtina.


"O sol escurecerá e a lua não dará a sua luz" (Mt 24, 29).

Ao referir-se aos fim dos tempos, um dos sinais aos quais Nosso Senhor se refere é a perda da luz do sol e da lua. Por que o sol e a lua não brilharão mais? Será o juízo final feito na escuridão?

É evidente que não! S. João Crisóstomo afirma que quando o Senhor voltar, ele terá as suas feridas mais luminosas que o sol, o que antes fora humilhação e sofrimento será inteiramente glória e que brilharão nos céus os instrumentos da Paixão, particularmente a Santa Cruz. A Cruz será o sol do novo céu e da nova terra.

Iniciando hoje o tempo da Paixão a Igreja entoa: Vexilla Regis prodeunt/ Fulgit Crucis mysterium! Avança o estandarte do Rei, resplandece o mistério da Cruz.

S. Mateus, S. Marcos e S. Lucas falam das trevas que cobrem a terra quando o Senhor é crucificado. O sol, de certo modo, compreende que não é mais necessário. Já há uma nova luz sobre o mundo, a Cruz.

A Cruz é luz, por isso nos é difícil compreendê-la.

Muitas vezes o que nos impede de contemplar uma coisa em sua totalidade não é a falta de luz, mas o seu excesso. Não compreendemos a cruz não porque lhe falte luz, mas porque ela mesma é luz resplandecente.

O tempo da Paixão é um tempo de maior recolhimento, nas Igrejas e, facultativamente nas casas, principalmente os crucifixos e, se possível, as imagens são cobertas por um véu roxo. Não é mais o tempo de buscar a Deus nas coisas externas - ainda que boas e santas - mas de encontrá-l'O na via sacra da nossa vida, de descobrí-l'O no nosso coração, ou de perceber o que é necessário tirar do nosso coração para que Ele possa entrar.

Não esmoreçamos! Sejamos como aqueles atletas que quando vêem ao longe a linha de chegada, então é que se esforçam mais ainda, dão mais de si, se entregam mais. 

Fulget Crucis mysterium! Resplandece o mistério da Cruz!

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