MEDITAÇÃO SOBRE A PAIXÃO DO SENHOR XXXIII

 


Diz a Esposa: "Eu sou do meu amado. O seu desejo o traz para mim" (Ct 7, 11).

Já seria admirável que alguém acidentalmente, num instinto, tomasse sobre si o sofrimento do outro, o protegesse ou libertar-se ainda que à custas de dores e mesmo à custas da vida.

Mas alguém desejar isso?

Sim. O Senhor nos desejou.

Na última ceia, diz Nosso Senhor: "Desiderio desideravit..." Desejei desejando, desejei duplamente, desejei ardentemente... Esse é o desejo de Deus por nós.

Um desejo que começa rasgando o céu pela Encarnação e chega a rasgar a própria carne assumida, imolando-a no Altar da Cruz. Isso é desejo!

E vós, ó almas, o quanto desejais a Deus?

Desejais como o avarento deseja o seu dinheiro ou como o infeliz sensual deseja a sua satisfação?

Não. 

Não desejais a Deus. Quando muito desejais as suas consolações. Tens vontade de Deus, e uma vontadezinha fraca, pusilânime, indecisa.

Desejar a Deus como Deus nos deseja é impossível, mas pelo menos podíamos desejá-lo com toda força de nosso coração, destruindo - destruindo, destruindo - tudo o que nos separa d'Ele! Mas não! Ora pecais, ora confessais e nunca desejais! Sois como o jogador doentio ou o bêbado que esconde sobre o travesseiro as cartas ou as garrafas, porque... podem ainda ser úteis um dia!

Não vos arrependeis! Simplesmente guardais vossos pecados para outra ocasião.
Envergonha-vos os vossos pecados, mas passada a vergonha os retomais!

E ainda esperais misericórdia?! Ainda esperais que aquele de quem apenas sentistes uma vontade fraca os coroe de glória e lhes dê um lugar ao seu lado na eternidade?! Ele que destruiu todos os limites do céu e da terra em Seu desejo por vós.

Não houve limites que Nosso Senhor não ultrapassasse, não derrubasse, no Seu desejo por nós! Nem a morte! E nós paramos na primeira coisinha que se objetou entre nós e o Amor!

Óh Deus, o quanto nos desejastes! O vosso desejo nos trouxe a nós! Descestes dos céus, fizestes uma Virgem conceber, unistes à vossa divindade a nossa pobre humanidade, tornando-vos Deus encarnado! Nascestes num estábulo, tivestes que fugir para uma terra estranha ainda Menino. Quisestes trabalhar com vossas mãos, passastes fome, fostes humilhado, odiado, desprezado, caluniado, flagelado, coroado de espinhos, carregastes vossa cruz, e nu fostes erguido nela para nela morrer de desejo por nós!
Meu Senhor, o quanto nos desejastes! Na cruz gritastes: Sitio, Tenho sede! Deram-vos vinagre.
Gritais novamente em meus surdos ouvidos: Sitio! E que vos deu, Senhor meu? O vinagre dos meus pecados, da minha preguiça, do meu horror pela cruz!
Oh, Salvador, o vosso desejo Vos traz a mim! Tens sede de mim! Não tendes sede de minhas obras, de minhas palavras... tendes sede de mim. O vosso desejo Vos traz a mim!







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