HOMILIA DO DOMINGO DE RAMOS

 

A celebracao hodierna e uma das mais antigas que se conservaram. Já os primeiros peregrinos de Jerusalém contavam sobre as procissões que desciam o monte das oliveiras com o bispo e o povo carregando Ramos de Oliveira.

Em nossa liturgia, quando celebrada com toda a solenidade, fica ainda mais claro um duplo aspecto que se divide entre a procissão e a Missa.

A procissão é festiva, alegre, triunfante. Os ramos nas mãos são a proclamação de uma vitória, como vemos nas imagens dos Santos Mártires. Há uma frase de S. Agostinho que pode mostrar bem esse duplo aspecto: Victor, quia vitima. Vencedor, porque foi feito vitima…

A procissão e a primeira parte dessa frase: Victor. 

Somos já vencedores, o céu é nosso! E nesse tempo, como os Santos Cristeros podemos dizer: Vamos que o céu está barato! Sim, o céu nos é barato, porque será o preço de simplesmente sermos quem somos - católicos. E não existe católico perdedor, se, por alguma razão parece que o católico perdeu, nós já temos um nome para esse fiel: mártir. Católico jamais perde.

Mas então, começa a missa...triste. Essa missa é propriamente a Missa da Paixão, nessa missa antecipa-se já a Sexta-feira Santa e com mais intensidade, se é possível, aqui e agora renova-se o Sacrifício do Calvário. Essa missa recorda o quia victima - porque se fez vitima. Não haverá vitória se não houver predisposição ao sacrifício. O que mais retarda a santidade de um fiel não é uma virtude que ainda não se tem ou um pecado que ainda se comete, é o medo de ser vítima, de morrer. Desde pequenos nos ensinaram a estar do lado dos vencedores, e nunca notamos que muitas vezes isso significa não estar do lado da cruz. Quem quiser salvar a sua vida, perde-a.

A cruz sempre se alternou entre o incompreensível e o inefável. Para os inimigos da fé ela e incompreensível, por isso dela nada sabem, por isso a odeiam e ridicularizam. Lembro-me de um grafite encontrado numa parede romana que retratava um rapaz ajoelhado ante um burro crucificado com a inscrição "Anaxêmanos adora seu Deus". Para os inimigos da fé, a cruz e incompreensível, loucura, burrice.

Mas, e para nós? O que falamos da cruz? Talvez o melhor seja não dizer nada: para nós a cruz é inefável. Silenciamos, adoramos, abraçamos e morremos para viver. A cruz para nós deve ser tão bela, tão grande, tão tudo que só nos resta o enlevo, a admiração e o silêncio.

A Cristo não se segue vivo. Só se sua morte age em nós e morremos para nós mesmos podemos segui-lo.

Há 809 anos, S. Clara ainda não tinha plena certeza de deixar tudo e seguir Nosso Senhor nos passos de S. Francisco. Foi ela à missa e, por uma razão misteriosa, dom Guido desce do seu trono episcopal e entrega nas mãos da futura esposa de Xto um ramo de oliveira. Pq ele fez isso foi um mistério para todos, mas não para Clara. No ramo de oliveira ela compreendeu que o Senhor a chamava.

Decidiu fugir naquela mesma noite. Preparou tudo para a fuga, e seu tio preparou tudo para evitar a fuga...guardas em todas as janelas e todas as portas do palacete dos Offreducci…

E agora, Clara? Por onde sairá?

O amor sempre encontra solução. Uma porta ficou sem guarda… era uma porta pequena meio estreita, porque só saiam por ela quem estava deitado… era a porta por onde passavam os corpos dos mortos. Foi por ali que a mais nova morta começou sua nova vida, levando nas mãos o ramo de oliveira recebido do Bispo, porque ao morrer já estava certa que venceria.

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