PLUS


Algumas vezes ouvi pessoas usarem a palavra plus, mas nunca num sentido religioso. Plus quer dizer mais, e as vezes que escutei eram pessoas de negócio geralmente se referindo a necessidade de algum plus, ou seja de um algo mais, pelo que eu entendi.
O fato é que se a palavra "missão" me faz pensar em um S. Francisco Xavier e "rosa" em Santa Teresinha, plus recorda-me uma Santa sobre a qual tudo o que sabemos se resume a um capítulo da vida de outro Santo, seu irmão. Trata-se de S. Escolástica, irmã de S. Bento.
A referência mais importante (e, ao que tudo indica a única, ou pelo menos a mais confiável) que se têm sobre ela está num dos últimos capítulos do II Livro dos Diálogos de S. Gregório Magno e conta sobre uma visita e um impasse.
Nesse capítulo S. Gregório fala de um costume de que, de tempos em tempos, os dois irmãos que viviam cada um em seu mosteiro, se encontrassem numa propriedade próxima do convento de S. Bento e ficavam o dia inteiro falando sobre Deus. Assim também no último ano da vida de S. Escolástica esse costume realizou-se. Porém, ao chegar a noite, S. Bento decide retornar ao mosteiro para não passar a noite fora de sua cela, mas S. Escolástica pede-lhe uma exceção, que ficasse ali durante a noite conversando com ela sobre Deus.
S. Escolástica então põe os cotovelos sobre a mesa e apoia a cabeça sobre as mãos. Ao erguer a cabeça uma terrível tempestade desaba sobre o lugar de modo que seria impossível sair. S. Bento, com uma simplicidade admirável, compreendendo a razão da tempestade, pergunta: "Que fizeste, irmã?".
E a Santa com, uma mistura de bom-humor e de santa teimosia, respondeu: "Pedi a ti que não me ouvistes. Pedi, então a Deus que me ouviu. Vai embora, se podes!".
E passaram a noite, falando sobre Deus.
Três dias depois, S. Bento viu a alma de sua irmã voar da terra ao céu em forma de pomba. Pediu então que trouxessem seu sagrado e virginal corpo que foi sepultado no túmulo que S. Bento mandara fazer para si.
S. Gregório, porém, não deixa passar a razão pela qual S. Bento foi "vencido" por S. Escolástica: "mais pode aquela que mais amou" - PLUS POTUIT QUAE AMPLIUS AMAVIT.
Plus potuit... Pode mais
Que resposta maravilhosa! Pode mais aquela que mais amou!
E é tão triste que muitas pessoas instrumentalizem isso para "desculparem" as suas desobediências!
Voltemos ao que aconteceu entre os irmãos: S. Bento escreveu uma Regra, um conjunto de leis, muitas dessas leis são ecos dos Santos Mandamentos, outras são questões práticas, e, portanto, de importância menor. 
Por exemplo: "Nada antepor ao amor de Cristo" (4,21) não é tão substancial como o inventário do material (32,3), embora estejam ordenados no mesmo espírito.
S. Bento pensava em cumprir os preceitos que ele mesmo tinha determinado, e S. Escolástica pensava em algo mais importante, a mútua edificação dos irmãos no amor de Deus. E, confiando em Deus, pediu a Ele que julgasse o que fosse mais conveniente a ambos.
E Deus julgou. Tempestade. Fiquem.
Quando nós queremos julgar o que é mais importante, sem reportar ao juízo de Deus, geralmente acabamos por fazer a nossa vontade.
E isso fica ainda pior quando o que se pensa "discernir" são as matérias diretamente relacionadas aos mandamentos de Deus. Ora, poderia Deus favorecer, ser agradado ou deixar uma impune uma violação dos mandamentos que Ele mesmo nos deu?
Quem pensa em violar os mandamentos não "ama mais", "ama menos"!
Mas tantos são enredados nesses pensamentos...
"Não... o que vale é o amor. É o amoooor, que mexe com minha cabeça..." "Eu não vou à Missa, não rezo, não falo com aquela pessoa, não vivo a castidade, mas é por amor... é o amoooorrr"
Não, não é!
Deus é amor. Nada que afasta do amor, pode ser amor. 
Queridos amigos, podemos tantas vezes tão pouco, porque pouco amamos, e muitas vezes o que julgamos ser amor é só interesse, satisfação, egoísmo...
Plus potuit quae amplius amavit.
Esse único fato que sabemos da vida de S. Escolástica como que resume toda a existência dessa Santa Virgem que viveu à sombra de seu Santo Irmão e também seu Patriarca. 
Que por intercessão dela, saibamos amar e submeter a Deus toda a nossa vontade.

 

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