PERSEVERANÇA


 Se perguntássemos o que é uma pessoa perseverante, a resposta mais comum provavelmente seria que é aquela que, aconteça o que acontecer, mantem as atitudes que decidiu ter. E essa resposta é correta. Perseverar é... perseverar. É ser fiel às pessoas, aos propósitos, aos ideais, às promessas... sempre.

Mas a pergunta que poderíamos fazer é, que criatura - à exceção da Santíssima Virgem - poderia caber de forma absoluta nessa definição?

Por isso, precisamos compreender que a perseverança não é uma virtude retilínea, como um mar em calmaria. Mas possui algo de bélico, de guerra. Que não se trata apenas de fazer as mesmas coisas quase que estoicamente, mas especialmente de lutar para manter as mesmas disposições de espírito e, SOBRETUDO, de recomeçar quando se deixou.

Nós não nos julgamos perseverantes porque abandonamos nossos propósitos, nossas orações. Mas esquecemos que é justamente esse abandono (queira Deus, inicial e momentâneo) que nos dá a possibilidade de recomeçar, de fazer de novo, de voltar ao que antes tínhamos deixado e isso também é perseverança.

A perseverança é essa virtude bélica, e talvez a mais aguerrida das virtudes, porque o movimento contrário é pesadíssimo. Ou seja recomeçar a vida espiritual, voltar ao terço, à confissão frequente, aos propósitos de vida doméstica ou profissional exigem um autêntico esforço, maior até do que o de não cometer pecados mortais. Nesse sentido, Santo Tomás ensina que "perseverança no bem é mais difícil que o abandono do mal".

Por que trouxe essa reflexão hoje?

Porque hoje é véspera da Quaresma.

E imagino que muitos estamos cheios de propósitos para ela: voltarei a rezar o terço todos os dias, voltarei a rezar a Liturgia das Horas, farei tal mortificação, reconciliar-me-ei com tal pessoa, farei todos os dias a Via Sacra, não comerei manteiga etc.

E, com certeza, alguma coisa vai dar errado.

Em alguma coisa, experimentaremos o que disse o Senhor: "o espírito está pronto, mas a carne é fraca..." Teremos racionalmente a certeza do bem que tal coisa nos pode dar e mesmo assim não a faremos, ou simplesmente esquecemos, ou... seja lá qual for a razão não perseveramos.

E a questão que se deve levantar é: por que não fui fiel num dia, abandonarei tal prática? 

A quaresma é um tempo longo... em certo sentido a nossa vida é uma perene quaresma. Ora, se Deus nos dá tanto tempo, não seria para que tivéssemos tempo de recomeçar? De lutar para perseverarmos no bem, não apenas no sentido de termos cumprido tal coisa, mas - talvez sobretudo - de voltarmos a cumprir o que tenhamos abandonado?

Um segundo é mais que suficiente a Deus para santificar uma alma. Mas para nós, com o auxílio de Deus e de Nossa Senhora, nos santificarmos vai o tempo de uma quaresma, mais ainda, o tempo de uma vida. Uma vida repleta de começos e recomeços. Uma vida que às vezes pode parecer uma piada de tanta inconstância.

Mas, se contra as inconstâncias, luta a constância. Se o não cumprimento de hoje me enche de força para o cumprimento de amanhã, a minha vida não é uma piada; mas, sim, traz alegria a Deus que nos vê em todos os momentos e que só espera de nós uma atitude: luta.

Comentários