MEDITAÇÃO SOBRE A PAIXÃO DO SENHOR II


Diz o Espírito Santo: "De Deus não se zomba" (Gl 6,7).
Por que sofreu e morreu Nosso Senhor?
Da resposta à essa pergunta depende a salvação ou a perdição de muitas almas.
Alguns dão uma resposta de cunho político, um Cristo perseguido pelos poderosos de seu tempo que com seus discursos sobre igualdade, partilha e justiça (a única vez que alguém pediu a Nosso Senhor que interviesse numa questão de partilha, Nosso Senhor negou-se rotundamente a ser juiz nessas questões) teria incomodado as classes dominantes etc etc.
Outros dão respostas mais elevadas.
E talvez a resposta mais comum fosse o amor.
Mas mesmo essa resposta, sem algum complemento, desfigura a paixão do Senhor.
Nosso Senhor sofreu e morreu para satisfazer a Justiça Divina.
Satisfazer não como entendemos hoje, mas no sentido de apresentar uma justa reparação.
Por isso, queridos irmãos, não podeis retirar do mistério da cruz todo o peso da justiça de Deus que se  abateu sobre seu Filho. Lança que estava dirigida contra nós, mas que o Pai desferiu em seu próprio Unigênito.
Justiça.
O pregão pascal cantará dentro de algum tempo: "ut servum redimeres, Filium tradidisti!" para resgatar o servo, entregastes o Filho!
Aquele que segurou a mão de Abraão, salvando assim a Isaac, não reteve a sua contra o próprio Filho.
Justiça.
Considerai o diálogo no interior da Trindade, no mais íntimo da vida divina, sobre a queda do homem e o seu consequente banimento da vida eterna, da salvação, do Paraíso não apenas terrestre, mas sobretudo terrestre. Nada fora criado e o Padre, o Filho e o Espírito Santo já sabiam que o homem se voltaria contra Deus por causa do pecado.
Considerai a Deus Filho que ali se apresenta ao Padre Eterno disposto a fazer-se homem, a rebaixar-se a um nível impensável! Rebaixar-se mais do que se o mais belo, mais sábio, mais santo dos homens tivesse o poder de tornar-se uma lesma!
Considerai o olhar de Deus Padre para o Filho nesse momento eternal. Considerai ali, o Espírito Santo já tendo em mente a alma de Maria em cuja plenitude habitaria e depois o milagre da encarnação que seria operado por sua virtude!
Considerai o Sacerdócio eterno com o qual promete investir o Filho no momento de sua Encarnação. No dizer do Bem-aventurado Columba Marmion, ao introduzir o Filho no mundo, aqu'Ele que diz: "Tu és meu filho, eu hoje te gerei", diz ao mesmo tempo: "Tu és Sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedec!" Se o Sacerdócio de Cristo não tivesse sua origem no coração de Deus Padre, ele não poderia ser dito "eterno".
É somente sendo Sacerdote que Nosso Senhor poderia dar à sua morte o valor de sacrifício expiatório para a Justiça de Deus.
Justiça.
Como a consideração da justiça é tremenda para as nossas almas! Como salva! Como redime!
Quando olhardes o Crucifixo, pensai primeiro: Justiça.
E não atraí contra vós essa mesma Justiça, ultrajando-a, humilhando-a, desdenhando-a com vossos pecados!
Aquele que peca, rejeita a Cruz do Senhor, é como alguém que diante de uma chuva de flechas mortais joga fora seu único escudo. Cristo Crucificado, Justiça consumada de Deus, é o escudo do pecador.
Não vos enganeis!
Mais almas caem no inferno por causa da misericórdia de Deus, do que por causa da sua justiça.
Aquele que considera a misericórdia sem considerar a justiça sempre deixa para depois a confissão mais contrita, a conversão mais sincera, a salvação de sua alma.
E quem pode garantir que haverá um depois? Uma guerra, uma doença, um carro desgovernado... E aquela alma para sempre pensará no tempo que perdeu deixando para depois a sua conversão.
Sabeis quais são os maiores tormentos do inferno?
Os condenados sabem que estão lá porque merecem. E sabem que Deus os amou tanto para que não estivessem lá.
Os condenados não odeiam a Deus por ser justo. Odeiam a Deus por ser misericordioso.
Odeiam a Deus porque Ele os amou. Odeiam porque tendo passado a vida mortal culpando aos outros, agora não conseguem culpar a Deus por seu lastimoso estado. Estão ali porque merecem.
E quanto mais misericórdia Deus usou para com uma alma, se ela rejeita, tanto pior será o seu estado de condenação eterna.
Zombaram de Deus. Zombaram de Maria Santíssima. Derramaram em vão o Sangue de Cristo e as lágrimas de Maria. Fizeram pouco dos Santos. Perseguiram as almas fiéis. Caçoaram dos que lutavam pela salvação. Convidavam almas puras para o pecado. Introduziam em mentes inocentes toda espécie de maldade...
Justiça.
Esperareis por amanhã? Tereis por certo que antes do amanhã não tereis um encontro definitivo com o Justo?
De Deus não se zomba!




 

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