MEDITAÇÃO SOBRE A PAIXÃO DO SENHOR VIII

 

Diz a Esposa no Cântico: "Beija-me com os beijos da tua boca. Seus lábios são lírios que destilam mirra" (Ct 1,2; 5, 13).

Ao beijar o leproso, concretiza-se em S. Francisco o sentimento profético de que tudo o que outrora era amargo, ficaria doce. E o que antes era doce, ficava amargo.

Esse mesmo sentimento foi vivido pelos outros santos. Afirma S. Ambrósio que a pequena S. Inês ia ao martírio com a alegria que uma noiva vai para o casamento. As almas que se deixam marcar pelo mistério da Cruz, encontram mais alegria no sofrer pelo Senhor do que aqueles que buscam os tesouros mundanos: prazer, possuir e poder.

Para as almas que se deixaram desposar pelo Senhor, o sofrimento não deixa de ser sofrimento, mas é-lhes possível conhecer uma face do sofrimento que permanece oculta para aqueles que só buscam a satisfação nessa vida.

S. Agostinho retrata duas cidades uma que partindo do desprezo de si se busca apenas o amor de Deus e outra que desprezando a Deus busca apenas o amor de si. O cristão deve escolher qual cidade edificar. 

O Senhor não nos pede que busquemos sofrimentos, mas que não fujamos deles a todo o custo.

Primeiro porque não é possível viver sem sofrer, segundo porque - uma vez que são inevitáveis - os sofrimentos podem ser muitíssimo úteis, e, quanto mais unida à cruz nossa alma estiver, se tornarão desejáveis.

No sofrimento, a alma encontra o ósculo castíssimo do Salvador, e de seus lábios feitos de lírio, o Senhor derrama sobre a alma eleita a mirra de seus sofrimentos.

"O que antes era amargo, tornar-se-á doce..."

Comentários