MEDITAÇÃO SOBRE A PAIXÃO DO SENHOR IV

 


"Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia, não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres”."(Mt, 26,39)
Dentre todos os passos da Paixão, a agonia no horto é o mais tenso, mas ao mesmo tempo, o mais exemplar. Já Santo Tomás ensinava que a paixão do Senhor é uma escola, e o quanto aprendemos contemplando o bendito horto das oliveiras!

Contemplai o Senhor, perfeito Deus e perfeito homem, oprimido pelo peso de todos os pecados! Contemplai o Senhor que, no dizer de S. Paulo, sem ter pecado fez-Se Ele mesmo pecado por nossa causa.

Imaginai a pessoa mais limpa, mais asseada, que recebesse num só golpe sobre si, da cabeça à ponta do pé litros e litros das piores imundícies. Imaginai que se se isso é asqueroso até para uma pessoa suja, a dor moral que provoca numa pessoa limpa.

Infinitamente mais sofreu nosso Senhor. No horto o seu sofrimento foi moral, ou seja o sofrimento da pior espécie. Pois sofre mais a alma do que o corpo. As dores do corpo podem não afetar a alma, mas as dores da alma recaem catastroficamente sobre o corpo.
Por isso, diz S. Lucas que o Senhor suou sangue.
Os cientistas afirmam que sob uma situação extraordinária de sofrimento moral os vasos capilares se rompem e o sangue sai pela pele como se fosse suor, assim sofreu o Senhor. 

E o Senhor busca conforto, pede conforto ao céu, que Lhe parece fechado. Vai aos homens a quem iria redimir... dormem.
Volta ao céu... Pai...
Aqui o Senhor nos está ensinando.
Pai...
Ainda que nos sintamos deserdados pelo sofrimento, Deus nunca deixa de ser nosso Pai.
Pai...
E o Pai envia um anjo que conforta o Senhor.
Que lhe oferece o calix que, em sua humanidade, o Senhor sentia repulsa.
E o que continha esse cálice? 

Olhai a figura acima.
Cruz, lanças, vinagre... até os dados com os quais os soldados tiraram a sorte para ver a quem caberia a túnica inconsútil que único bem do Senhor que lhe fora feito por sua Santíssima Mãe.

E o Senhor bebeu.
Bebeu até não sobrar nada, até que todo sofrimento do mundo passasse por sua garganta e fizesse explodir seu Sagrado Coração. "Em minha sede, deram-me vinagre".
E continuareis a fugir das dores? A evitá-las a todo o custo?
Não podeis vigiar com Ele? Não podeis sofrer com Ele?

Ó almas benditas às quais à Divina Providência já oferece a bênção da dor, da perseguição, do sofrimento.
Ó almas prediletas que estais com raízes fincadas no Getsêmani.
Ó almas colhidas no Getsêmani, quais viçosas azeitonas, pelas quais o Senhor permite que continuamente passe aquela roda de pedra que tritura, que destrói, mas que gera para os outros o azeite mais puro.
Ó almas que sofreis, ouvi a promessa: "Felizes os que choram, porque serão consolados!". E sofrei, porque aquele que permite que sofreis não deixou de ser vosso Pai. E se Ele não pode padecer, por ser Deus, Ele se compadece de vós.

Já vistes os pais chorarem quando um filho toma uma vacina? 

Quanto mais o vosso Pai celestial...

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