LINGUAGEM

 

Há no maravilhoso seriado "Chaves" um episódio em que o Seu Madruga explica ao Chaves como se joga boliche. Porém, entre o que o Seu Madruga diz e o que Chaves entende há um abismo...

E não é só com eles que isso acontece. Há um costume atual de adotar uma linguagem ambígua na qual se pode entender o correto e o errado ao mesmo tempo. Geralmente parte-se de termos bem amplos, que aumentando em extensão diminuem em compreensão. 

Por exemplo, não se fala mais em "alma", mas em "pessoa". Se a missão da Igreja "era" salvar "almas", agora se fala em salvar "pessoas", e juntamente, embora as pessoas tenham alma, há uma mudança do transcendente para o imanente, ou seja: a salvação das almas é uma realidade que transcende o meramente natural, tem a ver com a bem-aventurança, com o paraíso, com a visão de Deus; enquanto que salvar as "pessoas" traz um vínculo mais imanente, mais, digamos, terreno e material: salvar as pessoas da "opressão de um sistema econômico", da "exclusão social" etc.

Juntamente com isso surgem palavras que, embora não sejam em si incorretas, não expressam a totalidade da verdade, ao contrário, seu uso acaba por negar a compreensão mais completa e precisa. Por exemplo, a expressão mais comum para se referir à Igreja que está neste mundo sempre foi Igreja militante. Militante quer dizer que combate. De uns anos para cá, paulatinamente, a militância deu lugar à peregrinação. Hoje, se fala em Igreja peregrina, no sentido de que caminhamos para a pátria celeste, o que é correto. Mas esse caminho não é um caminho largo e fácil, mas um caminho de luta, combate e mesmo de violência, tal como disse claramente, e mais de uma vez, Nosso Senhor.

A Igreja "peregrina" porém se coloca como se fosse uma "igreja em busca", em busca até mesmo da verdade... E a Igreja Católica se apresenta como mais uma religião que "peregrina" buscando a verdade junto com as demais religiões.

Ora, o Católico não busca a verdade. Ele a possui, porque a Igreja a possui. Se se pode dizer que o Católico busca a verdade, é através do conhecimento da doutrina que a Igreja já possui em plenitude.

Outra situação análoga é em relação à Santíssima Eucaristia. Há uma palavra que traz em si todas as dimensões do Santíssimo Sacramento que é Sacrifício. Mas essa palavra pouco é usada atualmente, aliás poderíamos considerar que é até evitada. Dimensiona-se à Eucaristia apenas às referências que se refiram à "ceia", "partilha", "comunhão" que sem a compreensão sacrifical desfiguram e esvaziam o Divino Sacramento.

Há uma corrupção também de palavras referentes aos valores cristãos, tais como igualdade, liberdade e fraternidade dos quais a Revolução Francesa se "apropriou" e corrompeu. Essas expressões hoje são consideradas como a negação de toda diferença que é vista como um mal, o relativismo moral e conjunção de todas as religiões como caminhos de paz.

A própria tolerância, que sempre foi vivida pela Igreja, e agora se arroga num "direito de cidadania" aos erros. Se o erro têm direitos então ele é lei, não é mais necessária a tolerância. Se tolera o erro, na esperança de quem o comete possa conhecer a verdade e viver de acordo com ela. Mas a atual "tolerância" ao erro gera a "intolerância" à verdade, daí a crescente "cristianofobia" que se manifesta de todas as formas em nossos dias: desde a ridicularização até o martírio.

Um propósito para a Quaresma que está para começar pode ser buscar conhecer mais a Santa Doutrina e pedir a Deus a coragem de um cruzado para não cairmos na ambiguidade nem por maldade nem por fraqueza.


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