SENTADO

 


Quando em 31 de janeiro de 1888 Dom Bosco entregou sua alma à Deus, os seus filhos espirituais o prepararam para um primeiro momento de velório "pouco comum": o colocaram sentado.
A razão que alguns biógrafos dão para esse fato é que ver "Dom Bosco deitado" chocaria mais os jovens do que ver "Dom Bosco morto". E isso é de uma grande profundidade.
A Igreja usa várias palavras em torno da realidade da morte, e algumas delas é sono, repouso, descanso. São palavras bonitas que amenizam o impacto que "morte" pode ter, mas que trazem consigo um compromisso para essa vidas: vigia, trabalho, fadiga.
Ora, quem já dormiu, vai dormir mais? Quem nada fez vai descansar do quê?
E quando pensamos em Dom Bosco, realmente somos obrigados a concordar com aqueles que o prepararam para o velório: era um homem incansável. Não teve um minuto de descanso na sua busca por salvar as almas, podendo ser-lhe tirado todo o resto, até o repouso. Os jovens e adolescentes que tiveram a alegria de conviver com ele sabiam que um dia iria morrer, talvez imaginassem esse dia, mas talvez tivessem a impressão que o bom Dom Bosco jamais dormia, tal como  Aquele que é o Guarda de Israel.
Não nos referimos apenas às noites em que primeiramente sozinho e depois com o auxílio de sua mamãe Dom Bosco passava a remendar as roupas dos seus meninos. Mas à vigilância que, como Bom Pastor, Dom Bosco exerceu sobre todos e cada um de seus meninos e posteriormente dos seus salesianos e salesianas que a Providência o faria fazer brotar.
Um pastor que nunca dorme, um pai que nunca dorme, porque ama, porque cuida porque sabe que há um risco, um inimigo, um lobo, um ladrão, um homicida que o é desde o princípio e quer arrebatar as almas de Deus e de seus servos.
Um pai de família tão humilde que chama as intervenções potentíssimas de Deus e de Nossa Senhora em sua vida de profeta com o simples nome de "sonhos".
Um homem que conseguiu o apoio até dos inimigos da Igreja e foi muitas vezes rejeitado pelos filhos dela, especialmente os de mais alta posição.
De Dom Bosco se podia falar qualquer coisa - e se falou - menos que não trabalhava.
Mas qual era o trabalho de Dom Bosco?
Primeiro lugar oração.
Quando Turim foi assolada pela cólera, a medida preventiva sanitária que Dom Bosco deu a seus jovens foi: manterem-se castos e rezar à Nossa Senhora. E os jovens de Dom Bosco foram para o meio dos doentes sem que nenhum contraísse a doença. Castidade e oração.
Em segundo lugar, confiança. Sim, confiar é um trabalho de dimensões imensas, porque supõe a dificílima tarefa de nos esvaziarmos de toda a nossa "pompa e circunstância" e colocar esse nada que somos nós unicamente nas mãos de Deus e Nossa Senhora. Dom Bosco viveu a confiança no nível de um S. Paulo que dizia que a cruz é loucura, e, ouso dizer, no nível do próprio Jesus de quem Seus parentes diziam: "Enlouqeceu!" 
Todos sabemos como de forma tão hilária, Dom Bosco mandou ao manicômio dois padres que tinham ido até ele com a intenção de interná-lo...
E em terceiro lugar, o trabalho de Dom Bosco poderia se resumir numa palavra: edificar.
Edificar nos corações de seus jovens e salesianos um templo onde Deus pudesse dignamente habitar. Edificar oratórios e colégios onde os alicerces desses templos seriam lançados. E edificar templos, igrejas, onde particularmente o Sagrado Coração de Jesus e Maria Auxiliadora pudessem receber o culto que merecem.
E assim, foi a sua vida. A vida de um homem que era mais fácil pensar nele morto, do que pensar nele dormindo.
E hoje, bem acordado, ele olha para nós. Nos aponta "Aquela que tudo fez" e nos ordena irmos a seus pés implorar por nossa salvação, implorar para que não esqueçamos que "Deus nos vê", e implorar pelo Papado.
São João Bosco, rogai por nós.

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