DIREÇÃO ESPIRITUAL E LIBERDADE PESSOAL


Queridos amigos, muitos de vocês são meus dirigidos espirituais e, por isso, gostaria de refletir juntamente com vocês sobre algumas realidades pontuais sobre a direção espiritual e especialmente no que diz respeito à liberdade do dirigido espiritual.

A maioria dos assuntos que são tratados numa direção espiritual, ou muitas vezes a maior parte da direção espiritual são consagrados a questões que não têm nenhum fundo espiritual, mas puramente humano. Em boa medida, a direção espiritual tenta reconstruir em nós a "humanidade" que é o que sustenta o edifício da "espiritualidade". Se alguns santos submetiam a seus diretores espirituais locuções interiores e visões; eu e talvez alguns de vocês muitas vezes na direção tratamos sobre temas bem mais lights como acordar na hora, cumprir bem nossos deveres de estado, ser honesto, PACIENTE, sincero, prudente etc.

E buscamos começar a fazer com que nossa alma chegue à maturidade de Cristo, por meio da oração e da penitência.

Por isso, é necessário que se tenha com o diretor espiritual uma sinceridade... selvagem. Nenhum pensamento, nenhuma tentação, nenhum pecado, nenhuma fraqueza pode ser oculta a ele. E também a mais crua verdade sobre o que foi prescrito no campo da oração e da penitência.

Em 99% dos casos veremos que o problema "espiritual" no fundo é simplesmente "humano", e voltamos a trabalhar as virtudes que quase nunca foram inculcadas em nós. É claro que não há uma separação radical entre essas duas realidades, uma vez que o ser humano é uno, corpo e alma, mas, repito, uma humanidade mais virtuosa está mais preparada para desenvolver uma vida espiritual mais elevada.

Não há problema algum que o diretor se misture com a realidade do amigo. E brinque, encontre seus dirigidos fora da direção, mande um meme etc.

Mas imagine que diretor mande um meme e a pessoa considere aquilo como uma orientação da direção! Seria um absurdo. Portanto deve estar clara a distinção amizade/direção. E, se isso não for possível deve-se optar por uma ou outra. Eu preferiria que se optasse pela segunda.

Mas a direção espiritual não deixa de ser um tratamento, que, se o paciente julga que não surte efeito e o médico também pensa do mesmo modo, é necessário buscar outro profissional. Há razões em que a direção espiritual precise ser interrompida, e, em princípio sem volta, especialmente quando se têm a quebra da confiança e da sinceridade.

E isso de maneira muito natural, como se troca de médico. Sem rancor, tristeza ou raiva.

Entrando agora na motivação principal desse texto, é que deve estar muito claro, tanto para o diretor como para o dirigido, que salvo situações muito particulares, onde atuem fenômenos místicos extraordinários, o diretor não deve ter nenhuma autoridade sobre a vida profissional, e mesmo em certos aspectos sobre a vida pessoal do dirigido.

Se alguém está procurando uma casa, o diretor pode chamar a atenção para elementos a serem considerados, talvez ter uma Igreja perto etc, mas não pode ser ele a decidir qual casa morará uma família. O mesmo diz respeito a outras decisões que cabe ao dirigido tomar. O diretor não pode assumir o papel de um "oráculo".

Particularmente isso se refere aos trabalhos profissionais ou apostólicos que o dirigido tome.

Uma ingerência sobre esses assuntos seria catastrófica e geraria uma dependência que jamais deve existir entre dirigido e diretor.

Imaginem que eu fosse diretor de um Papa e lhe sugerisse proclamar um dogma só porque tenho determinada devoção! Não!

Se eu fosse diretor de um Papa não me importa quem é o Secretário de Estado, nem que santos vai canonizar. Me importa se têm rezado, feito penitência, e tudo o que diz respeito à sua vida espiritual, somente à sua vida espiritual.

Muitas pessoas (diretores e dirigidos) não sabem esses limites.

Recordo-me de um Bispo que me disse que ao transferir um padre de uma paróquia para outra, o padre pediu para o Bispo esperar porque iria consultar seu diretor espiritual... Absurdo.

O padre deveria levar a seu diretor se estivesse pensando em deixar o sacerdócio, não se o Bispo o transfere de uma paróquia.

O trabalho profissional ou apostólico de um dirigido só me interessa no que diz respeito à sua vida espiritual, e jamais eu poderia influenciar nada nesse âmbito. Um ou outro fato pode ser trazido à direção como uma consulta, mas se não diz respeito diretamente à vida espiritual da pessoa deve-se deixar claro que a pessoa tem liberdade para decidir o que julgar melhor.

Então, meus amigos, eu gostaria de deixar essa reflexão para vocês e para seus amigos. A direção espiritual é muito importante, mas jamais pode ser, como já disse, um "oráculo" ao qual se consulta cada passo que se vai dar. E, especialmente no que diz respeito à vida profissional e à vida apostólica; o dirigido precisa compreender sua grande liberdade nesses assuntos, sendo a influência do diretor apenas no sentido de não extinguir ou pôr em risco a vida espiritual nessas circunstâncias.




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