VINGANÇA

 

Não é apenas na primeira leitura de hoje que se refere ao "Dia do Senhor", "Yon Adonai", como dia de vingança. E, nesse sentido, como geralmente compreendemos a vingança como fruto do rancor, precisamos compreender o que significa a vingança de Deus.

Em primeiro lugar, a compreensão de que "Deus não quer a morte do pecador, mas sim que se converta e viva" e que não cessa de convidá-lo: "escolhe, pois a vida!" nos leva a perceber que Deus, em sua infinita bondade, concede a todos os homens, através da Virgem Maria, todas as graças suficientes para que se convertam e vivam fiéis a Ele.

Porém, a recusa do homem em relação à graça não costuma ser apenas uma atitude pontual em sua vida, mas um mau hábito que se cria e se cultiva durante os anos de sua vida mortal, uma vez que Deus não cessa de chamá-lo ao bem. E é justamente essa insistência de Deus em chamá-lo ao bem - que se não houvesse poderíamos ter a ideia de um Deus rancoroso e mau - que provoca no homem não apenas a recusa, mas mesmo o ódio àquele que não o deixa em seus vícios, mas gentilmente lhe dá mutíssimas oportunidades de conversão.

Não podendo nada contra Deus, muitos homens se voltam contra a Igreja e contra aqueles que na Igreja buscam aquilo que eles mesmos deveriam buscar. De modo que só a presença do "justo" já é um insulto para o "ímpio". Deus, porém, deixa que justos e injustos cresçam lado a lado, quem sabe o injusto não mudará se encontrar pessoas boas...

Mas muitas vezes isso também não acontece.

E chega o momento do juízo. Da vingança.

A vingança de Deus consiste apenas na verdade. O ímpio é aquele que afirmou a vida toda e agiu como se o mar não existisse, a morte jogou-o no mar e ele se afogou. Aquele que negou a Deus, que odiou a Deus, num segundo está diante d'Ele. E a morte não afetou as suas disposições interiores. Diante de Deus, continua a odiá-lo, continua a negá-lo como um louco que persistentemente nega a realidade posta diante de si.

Mas Deus vingou-se.

Vingou-se não porque aquela alma agora sofrerá (e depois com o corpo) todos os tormentos infinitos do inferno, mas vingou-se porque a verdade prevaleceu. A vingança de Deus não é outra coisa que o triunfo da verdade.

Nesse sentido, a Igreja tradicionalmente sempre orou para que seus inimigos fossem humilhados. Não seria lógico pedir que seus inimigos tivessem vida longa e saúde, uma vez que isso só pioraria a sua situação após suas mortes (quanto mais pecados, mais sofrimentos no inferno...), mas a Igreja pedia pela sua humilhação, ou seja que fossem capazes de reconhecer seus erros humildemente e voltar ao porto da verdade.

Orar pelos inimigos, jamais seria orar para que continuassem inimigos, mas orar pela sua conversão, para que reconheçam seus erros, reparem seus males enquanto há tempo. Porque a vingança vêm.