SEMPRE

 

Os que me conhecem sabem que não sou muito afeito a manifestações externas de afeto. Indo do básico aperto de mão até um abraço distante, segurando a pessoa a alguns centímetros de mim. Sou assim, paciência... Costumo dizer que os que desejarem beijos, abraços e colo procurem o Papai Noel do Shopping. Nesses tempos de pandemia, lamento a frustração que estes podem sentir.

Justamente por isso, um fato ocorrido há anos comigo - e com testemunhas - gerou um certo embaraço para elas. Estava na porta de uma igreja esperando o início de uma conferência de um amigo meu e da pessoa que chegaria, este nosso amigo comum era amigo do Papa da época - João Paulo II - e talvez o nosso interesse estivesse mais nele do que no nosso amigo, enfim.

Chegou então esse amigo, que não é católico, mas sacerdote ortodoxo que, como sempre, para não escandalizar, não trouxe a esposa... Ao nos encontrarmos, nos demos três beijos. Os que estavam comigo não esconderam o estupor que essa cena lhes causou.

Espanto tal, que depois que o padre ortodoxo entrou na Igreja, me vi na obrigação de dar uma explicação. Entre os ortodoxos, pelo menos daquele rito específico, é comum que se dê três beijos: dois numa face e outro na outra face. Os três beijos - como tudo entre os ortodoxos - tem um sentido espiritual: significam que Cristo esteve, está e estará entre nós.

Ou seja que Cristo está sempre conosco. Que por nossa amizade Cristo constantemente nasce, vive e retorna em nossos corações. Que a nossa amizade é uma "parusia" é uma chegada do Cristo na terra. Adoramos o Cristo que veio, esperamos o que vêm. Mas celebramos a sua Presença porque estamos juntos em seu nome.

Queridos amigos, que não esqueçamos de que o Cristo está sempre entre nós! Como seria diferente se tivéssemos um pouco dessa compreensão oriental (não apenas ortodoxa, mas também católica). Os ícones, por exemplo, não são pinturas ou objetos decorativos, os orientais acreditam que o ícone é uma espécie de janela, onde Nosso Senhor, Nossa Senhora, os Santos se fazem realmente presentes e nos fazem companhia, nos observam.

Esse meu amigo dizia com bom humor, que no ícone de S. Jorge até o cavalo está presente no lugar onde está o ícone... Quantos pecados, brigas, discussões, maus pensamentos mantemos descaradamente diante das Sagradas Imagens que temos em nossas casas!

Hoje, para concluir, dou-lhe virtualmente (e apenas assim) esses três beijos para que lembrem a você que o Senhor está sempre entre nós.😘😘😘

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