QUATORZE

 

Hoje é dia de S. Bárbara.

Mas onde a encontramos? Onde está seu ofício, sua Missa, sua comemoração? Sumiu.

E não apenas dela. Mas da grande maioria dos quatorze santos por quem o povo fiel sempre nutriu grande afeto, chegando a serem chamados de quatorze santos auxiliares. São eles: a nossa santa de hoje, Santa Bárbara e outras duas santas virgens mártires: Santa Margarida e Santa Catarina de Alexandria. E depois outros 11 santos homens, sendo dez mártires: S. Cristóvão, S. Jorge, S. Dionísio (ou Dinís ou Dênis), Santo Acácio, São Ciríaco, Santo Eustáquio, São Pantaleão, São Vítor, Santo Erasmo, S. Brás e, o Santo Egídio, que não foi mártir.

Exceto S. Brás, parece que todos os outros estão encobertos por uma nuvem de dúvida, não só de seus incontáveis milagres, mas até mesmo de sua existência (!), e os seus nomes sagrados às vezes estão unidos a um sorriso sem graça de como quem diz: "coitadinho, acredita nessas histórias..."

Embora não precisemos concordar com todo o seu pensamento, o filósofo Jean Guiton não deixa de perceber um problema no homem religioso desses últimos tempos. Há trezentos anos, se alguém tinha uma dor de cabeça, rezava. Hoje é só pedir pelo "zap" da farmácia uma aspirina. Os catorze santos auxiliares ou patronos tinham nas dificuldades da vida o seu "campo de ação" a sua especialidade: um contra certas dores, outro para pôr fim nas discórdias familiares, um para a proteção dos viajantes (não tinha google maps nem aplicativos de localizadores), outro contra as investidas do demônio, uma para o auxílio dos estudantes, outra contra os raios e tempestades...

Era o reflexo de um homem que se entendia a si mesmo como um mistério e como uma mistura. Um mistério infinito que reside em cada homem e em cada mulher que são uma mistura do pó da terra com o hálito de Deus...

E o homem se sentia confortável em saber que no céu alguém entendia seu problema, alguém era "especialista" naquilo. E se entregava à sua intercessão.

Era o tempo da Igreja da água benta, do beijo do leproso, da acolhida dos pestilentos.

Hoje na Igreja do álcool em gel e da comunhão com pinça essa devoção é uma ofensa.

Ofensa não à razão, mas ao racionalismo. Não à verdade, mas a um positivismo tão crítico que come pelas beiradas o depósito da fé.

E vamos deixando de ter essa compreensão de mistério sobre nós mesmos. E vamos nos tornando mais terra que hálito divino. Terra solta, sem liga, poeira.

Nunca precisamos tanto desses quatorze santos! Cuja própria história já é um "sursum corda", um "ao alto os corações!" antes que se apeguem demais ao barro do qual foram feitos.

Que eles intercedam por nós. E como proposta, pedido, missão, dever de casa... peço a você: busque conhecer, amar e invocar esses quatorze advogados que a Providência nos deu.

Comentários