GRAÇA

 

A festa que hoje celebramos, dos Santos Inocentes, é tão misteriosa quanto o mistério do mal.

Dizer que celebramos a morte de um Santo como um Santo Inácio ou São Policarpo é mais compreensível do que quando pensamos na comemoração dos Santos Inocentes. 

Sendo a liturgia uma grande escola, a antífona do Aleluia nos mostra o viés que devemos seguir: "A ti louva o exército dos mártires."

De modo algum celebra-se o exército mortífero dos Herodes de ontem e de hoje, não se louva os exércitos mortais, que um dia perecerão. Mas louva-se, sim o exército que venceu. Venceu morrendo. Tal como no dizer de Agostinho, o Cristo é Victor quia Victima, vencedor por ser vítima, ou poderia  ainda: vencedor, porque foi vencido.

Os Santos Inocentes entram no céu como um verdadeiro exército de homens. Um exército que venceu quando não podiam sequer defender-se. Um exército que venceu unicamente pela graça.

Honraram o nome de Cristo sem saber dizê-lo. Venceram, sem conseguirem empunhar armas.

"A ti louva o exército dos mártires".

A comemoração de hoje nos conduz à perda do medo da derrota neste mundo.

Uma derrota que se torna cada vez mais evidente. Cada vez maior.

Estamos sendo derrotados. Mais derrotados a cada dia.

Modernismo. Divórcio. Uniões homoafetivas. Aborto. Modas imorais...

Estamos sendo derrotados.

Mas temos armas a empunhar e força para lutar.

De Rosário na mão e protegidos pela fé, vamos com a coragem de um Cruzado, porque desejamos sim, vencer, mas não tememos perder. Porque se vencermos, vencemos. E se perdermos, mas perdermos lutando, sem recuar, então vencemos do mesmo modo, ou de um modo ainda mais retumbante.

Não nos será dada a graça dos Santos Inocentes de vencermos sem lutar.

Mas nos espera a mesma glória, conquistada por uma luta na qual, na visão de Deus, sempre venceremos.



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