XINGAMENTO

 

Sempre fui da opinião que o melhor modo de se conhecer uma pessoa ou uma instituição é pelos seus inimigos. E mais de uma vez foi ouvindo acusações e vendo inimigos que descobri o quilate de muitas pessoas e de muitas obras, particularmente eclesiásticas.

Na verdade amor e ódio são as duas grandes marcas dos verdadeiros seguidores de Nosso Senhor. Amam a todos. E recebem o ódio de todos.

"Se o mundo vos odeia..."

No início da Igreja se fazia um paralelo entre o corpo e a alma. Falava-se de um ódio do corpo em relação à alma (por isso que temos preguiça para as coisas espirituais como estudar, rezar etc): "o corpo odeia a alma, mas é a alma que dá a vida ao corpo. O mundo odeia os cristãos, mas são eles que dão vida ao mundo. O corpo não sabe dizer porque odeia a alma, nem o mundo porque odeia os cristãos".

O Santo de hoje foi muito odiado. Odiado até a morte.

E ainda era xingado com um xingamento muito interessante e... inspirado...

"Raptor de almas".

Assim os cismáticos ortodoxos chamavam aquele santo que dedicou sua vida à trazer os ortodoxos à verdadeira fé e a unidade da Igreja Católica. Tamanho era o êxito de S. Josafá nessa missão que os seus inimigos o chamavam de raptor de almas. 

Isso se devia, dentre outras razões, porque os cismáticos não se consideram cismáticos (o que não é coisa nova...) de modo que para eles não existe necessidade de se ter unidade com a Igreja de Roma, ela seria apenas mais uma dentre as várias Igrejas antigas, que teria um papel "de honra", mas não real, prático entre os demais patriarcados antigos.

Mas a presidência da Igreja de Roma, sobre as demais Igrejas não é algo acidental, nem superficial. Roma é a Mãe e Mestra de todas as Igrejas, mesmo aquelas que foram fundadas por outros apóstolos, mesmo antes da própria Igreja Romana.

A união de todos os Bispos do mundo com o Papa e a submissão à ele, enquanto também ele for fiel à Igreja (da qual não é dono, mas servo) é fundamental para o bem da Igreja e de cada fiel, mais ainda, é condição para que se possa ser realmente católico. Por isso, S. Josafá não podia contentar-se com o pensamento de que os ortodoxos também acreditavam em Jesus, era necessário, era urgente para ele levá-los à união com a Igreja Romana. 

E consumiu a sua vida por essa unidade.

Também nós hoje podemos ser levados por um pensamento dito ecumênico, mas que só mantém a divisão. Não há ecumenismo se não há o desejo de "um só rebanho e um só pastor", se não se busca a unidade de todos os cristãos na Igreja Católica, o que se faz?

Cai-se num irenismo, num pacifismo mentiroso.

Enquanto não se busca a unidade de todos os cristãos, o que Nosso Senhor mesmo pediu na Última Ceia, não se faz a vontade de Deus. E de pouco adiantaria outras iniciativas em níveis sociais, políticos, assistenciais... se não houver essa intenção da parte daqueles que estão na verdade, na Igreja.


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