QUINTO DIA DA NOVENA A NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS

 

Duas realidades se repetem quando pensamos naquelas pessoas que tiveram a alegria de ver nesse mundo o rosto da Santíssima Virgem: ou eram sofredores ou a partir de então começaram a sofrer. Ou se tratava de pessoas muito pobres, doentes, ou de pessoas sãs a quem a Santíssima Virgem convidou ao sofrimento de uma forma extremamente carinhosa e real.

Com Catarina Labouré não foi diferente. O seu sofrimento foi primordialmente um sofrimento moral (e só quem não teve um sofrimento moral o julgaria menos atroz que um físico...) e Nossa Senhora mesma a preparou: “sereis contraditada”.

Não foi pouco o sofrimento infligido na alma de Santa Catarina durante as quatro décadas em que, presa ao silêncio, não via acontecer os pedidos de Nossa Senhora. Já falamos sobre uma oração que a Santa escreveu dirigindo-se à Santíssima Virgem: “aparecei em outro lugar; aqui não vos querem ouvir...”

Também foi assim com Bernadete Soubirous, a vidente de Lourdes, e com os pastorinhos, particularmente S. Jacinta Marto, todos também padecendo graves e mortais sofrimentos no corpo. S. Jacinta no meio dos sofrimentos mais intensos (físicos e morais) dizia a Nosso Senhor: "Jesus, podes salvar agora muitas almas, porque está doendo muito!"

O sofrimento, meus irmãos, é uma escola. Escola onde somos testados sobre um só quesito: quem é Deus para mim?

A verdade é que a nossa concepção sobre Deus beira o paganismo. Deus para nós deveria ser muito mais protetor que amigo, muito mais milagreiro que pai.

Prefereríamos assim.

Não fazemos questão de sermos participantes da natureza divina pelo batismo, nem precisava estar conosco até o fim dos tempos na Eucaristia... bastava só não deixar nada de mal acontecer com a gente. Ou, se algo de mal acontecesse com a gente, fazer com que algo ainda pior acontecesse com quem “não é tão bom quanto a gente”.

É interessante ver como o sofrimento nos testa.

Quantos no sofrimento se agarraram em Deus. Souberam beijar a mão que lhes feria, porque acreditavam que aquela ferida era como as feridas que um médico inflige sobre um paciente para poder justamente dar-lhes a cura. Descobriam o valor redentor do sofrimento, uma redenção para si mesmo e para os outros.

E quantos, também pelo sofrimento se afastaram de Deus. Considerando-o um sádico que nos envia sofrimentos que julgamos não merecer, ou que sofreríamos melhor se o nosso sofrimento fosse outro...

E o que acontece? Enquanto o primeiro encontra conforto, o segundo só consegue cair mais e mais num desespero, numa loucura alucinante, num urro animal, num grunhido de besta ferida que sofre sem saber para quê.

Sim, para quê.

Dificilmente sabemos o porquê sofremos. Mas todos podemos saber para quê sofremos, S. Paulo já nos deu muitas respostas: “sois hóstias vivas”, “completo em minha carne o que falta à paixão de Cristo”, “Deus será glorificado em mim, quer pela vida, quer pela morte...”.

Mas no fundo, bem no fundo, o que preferimos? Nunca sofrer ou sermos amigos de Deus mesmo no sofrimento?

O problema é que a primeira opção não existe, é uma fraude. Ninguém vive sem sofrer. A verdade é que sofrimentos vêm sobre quem crê e quem não crê, a diferença não está no sofrimento, mas no modo como o vemos.

Mas preferimos um Deus protetor, uma Nossa Senhora que nos protege não do pecado e das tentações, mas das doenças e dificuldades da vida. Preferimos tanto isso, que muitas vezes os rejeitamos, como crianças mal-educadas quando são contrariadas.

Não somos cristãos para sofrer. Mas como cristãos, em cada sofrimento, transformando nosso corpo e nossa mente num altar, podemos dizer: Por Ele, com Ele e n’Ele e o sofrimento se transfigura em redenção.

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