SEXTO DIA DA NOVENA DE NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS

 

Quando Nossa Senhora desce dos céus para comunicar uma mensagem ao mundo, ela não ignora o contexto em que o mundo, nem que seja o “mundo” dos videntes, está. Em La Salete fala das colheitas, em Fátima da Guerra e,  em Rue du Bac, Nossa Senhora praticamente começa a sua mensagem com a frase: “os tempos serão maus”.

Nossa Senhora é a Mãe da Santa Esperança e é a Virgem fiel. Mas não podemos pensar na esperança e na fé de uma forma puramente natural, quase equivalente a um pensamento positivo. Ao avisar das desgraças que estão para se abater, Nossa Senhora como boa Mãe que é alerta-nos sobre os males que nos advirão, geralmente mostrando que são causados por causa de nossos pecados, de nossa indiferença para com Deus, pela falta de zelo dos pastores da Igreja... E, não dá a “esperança” de que as coisas vão melhorar, mas a “Esperança” de que Ela mesma estará conosco, ainda que tudo pareça perdido.

Concreta e imediatamente Nossa Senhora se referia às agitações políticas que aconteceriam na França com a queda do trono de Carlos X. Toda a desordem subsequente, o crescimento da perseguição à Igreja, culminando no assassinato de Mons. Darboy, Arcebispo de Paris, que chegou a compactuar com alguns ideais revolucionários, mas terminou vítima de quem tentou se aliar.

Os tempos serão maus.

Para combater os tempos maus, Nossa Senhora precisa de pessoas boas. No caso da medalha milagrosa, Nossa Senhora chama detalhadamente a atenção dos padres e das irmãs das Congregações fundadas por S. Vicente que se desviavam do caminho da santidade através de um relaxamento da regra, em perdas de tempo, em leituras inconvenientes e em visitas demasiadas.

Mas esses mesmos elementos podem se fazer presentes na vida de todo cristão. Todos nós temos (ou deveríamos ter) uma “regra de vida”, ou seja aquelas coisas que vão além do cumprimento dos dez mandamentos e que nós buscamos viver para estar mais próximos de Deus. Práticas de oração, de penitência e caridade que com a ajuda de um diretor nos impomos a nós mesmos, e, às vezes somos fiéis um dia, uma semana, mas com o tempo relaxamos. Primeiro, não fazendo bem e, segundo, não fazendo. Recomeçar é o lema de um verdadeiro filho de Nossa Senhora. Tal como Ela ajudou S. Pedro em seu caminho de retorno a Jesus após as negações, ajudar-nos-á uma, mil vezes a retomar o nosso caminho para Deus.

As perdas de tempo, meu Deus! Como perdemos tempo! Muitas vezes no final do nosso dia percebemos que fomos parasitas cibernéticos... horas e horas na frente de um computador e celular que não trouxeram nada de bom (quando não trouxeram muito de mal) em nossas vidas. O tempo é um dos talentos recebidos de Deus e do qual devemos prestar contas. Vivemos dizendo que não temos tempo, mas na maior parte das vezes agimos como crianças mimadas que atrasam até a última hora possível o que não lhes apetece fazer, e preenchem o tempo com coisas inúteis...

Leituras inconvenientes. Hoje estamos como Adão e Eva no Paraíso. Tudo está ao alcance de nossas mãos. Tudo de bem e tudo de mal. Lamentamos não conhecer mais a nossa Igreja, nossos Santos, nosso Deus... mas continuamos empenhados nas leituras mais esquisitas para um fiel católico, coisas que, se não forem nocivas, são pelo menos inúteis. E deixamos de progredir na vida de santidade porque, quando poderíamos iniciar uma leitura espiritual, nossos olhos e nossa mente já estão saturados de tanta informação.

Visitas. É normal que um religioso receba visitas, mas não é normal que dependa delas. Aquele que se entrega a Deus não pode ter um coração dividido. Nem alimentar apegos e dependências que só desvirtuam do caminho rumo a Deus. Nos relacionamos com dezenas, talvez centenas de pessoas, mas as deixamos passar? Ou somos um grude que prende tudo em nós mesmos? Somos instrumentos de encontro com Deus, e sabemos sumir na hora certa ou andamos com o coração na mão gritando: “olha a promoção!”

Queridos irmãos, repito, a esperança que Nossa Senhora nos traz, a fé da qual Ela é modelo perfeitíssimo, não são pensamentos positivos, como: “ainda vamos rir disso...”, “tudo vai ficar bem”, “a verdade prevalecerá, não se preocupe” quem já deu alguns passos na escola do sofrimento sabe que isso não é bem assim. Sabe que, na maior parte das vezes, a fé autêntica não é a idéia de que tudo vai melhorar, mas é a certeza de que mesmo quando tudo piorar, Nosso Senhor e Nossa Senhora estarão conosco.