DEVER

 

Quem é o servo inútil?

Ao contar a parábola dos servos e do patrão, Nosso Senhor fomenta em nós a humildade, recordando que colaborar com a graça e crescer na santidade e no apostolado são obrigações nossas, não são, como que, favores que fazemos a Deus e que O obrigam a retribuir-nos.

A vida de santidade não é um pré-primário onde esperamos ganhar uma estrelinha da "tia". É claro que "Deus é bom pagador" e nos retribui infinitamente mais. Só ao pensarmos que nos dá uma eternidade de alegrias em troca de poucos anos de fidelidade aqui na terra...

Mas precisamos crescer nessa consciência de que somos servos. Que, se por um lado, Deus nos ama como Pai Amorosíssimo que é, gratuitamente; ao mesmo tempo, nos confia a missão de nossa própria santificação e também a daqueles que estão mais próximos de nós.

Por isso, gostaria de me deter brevemente nas palavras que Nosso Senhor põe na boca dos servos: "Somos servos inúteis: fizemos o que devíamos fazer". 

O que devíamos.

Diante de nossa lista divina de tarefas nós geralmente fazemos uma segunda lista. Deus nos dá a lista do que DEVEMOS fazer, e, nós com essa lista, fazemos outra com o que PODEMOS fazer. Mas se inútil é o servo que faz tudo o que deve, o que será o servo que só faz o que pode?

A frase "Eu fiz o que podia" não é a companhia predileta do fracasso? De um fracasso que tem sua origem, na maior parte das vezes, na negligência que a mesma coisa que falta de amor? Fazer o que está a seu alcance, "fazer o que dá", qualquer um faz.

Se o Senhor nos fez seus filhos, se nos deu e nos dá constantemente a sua graça, se nos torna templos do Espírito Santo, se nos alimenta com a Divina Eucaristia não é para fazermos o que dá...

Não somos qualquer um. Somos filhos do Pai Eterno, membros vivos de Cristo, morada do Espírito Santo, e se isso fosse pouco, somos ainda, filhos amadíssimos da Virgem Maria, somos irmãos dos Santos e protegidos pelos Anjos... E somos tudo isso para fazermos "o que dá"?

Não. Fazermos o que devemos.

E o que devemos. A resposta é universal: santidade e apostolado.

E o modo como essa resposta se concretiza em nossa vida é que varia de acordo com as nossas circunstâncias vitais. Assim o monge e o casado, a virgem consagrada e a mãe de família, todos têm o mesmo dever, que se desdobra em outros deveres próprios de seu estado.

Não podemos nos contentar com "o que dá", também não adianta ficar entristecido porque não se fez tudo "o que deve", mas entre o "que dá" e o "que deve", estabelece-se uma tensão benfazeja que torna vibrante a nossa vida para alcançarmos a meta que o Senhor nos confiou.

O servo que não faz o que deve, é menos que inútil. E o que é pior que o inútil? É o estorvo.

Quem não se dispõe - ainda que nem sempre consiga - a fazer o que deve, quem se contenta com um encolher de ombros e dizer: "Fiz o que deu pra mim..." acaba tendo o poder de puxar pra baixo todos os outros. E semeia mediocridade entre aqueles que queriam combater pelo Senhor.

Fazer o que dá, qualquer um faz.

Ainda que, de repente, não reconheçamos grandes graças pessoais concedidas a nós, pensemos na filiação divina, nos sacramentos, na comunhão dos Santos e reconheçamos que tantas graças, que tanta força, não é para ficarmos na estreiteza de nossa possibilidade, mas na grandeza de horizonte a que nos chama o Senhor.

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