POLÍTICA



Aprendi que um padre jamais deve falar sobre política. O padre não existe para isso. Para falar sobre política já existe uma gama de pessoas muito melhor formadas e preparadas do que um padre e, ainda que o padre esteja correto no que diz, assim mesmo está errado em falar em política.

E essa tem sido minha postura nos lustros que já abarcam minha vida sacerdotal.

Por isso, o título dessa postagem seria originalmente consciência. Mas como esse título poderia não despertar muito interesse quis pôr algo mais "apimentado", e que não deixa de ser, perifericamente, o que vamos tratar.

Isso posto, quero tratar da consciência do católico ao exercer seu direito (obrigação) de votar.

Peca mortalmente o católico que vota num político sem conhecer a fundo seus projetos. Não se pode votar numa pessoa porque mora em nosso bairro. Seja para o executivo, seja para o legislativo, passarão por essas pessoas projetos de lei que podem ser destrutivos ao que ainda resta de cristão em nossa sociedade. Qual a sua postura? Qual o seu pensamento?

Um candidato pode ter como bandeira de sua campanha a luta contra a violência aos animais, ok. Isso é válido, mas ele não vai se ocupar só disso. Ele terá que se manifestar sobre a ideologia de gênero nas escolas, sobre a incitação aos vícios nas chamadas "marchas" (gay, da maconha...), sobre o aborto e sobre como ele será apresentado, a destinação de verbas públicas para eventos "culturais" que blasfemam contra Deus, a Virgem Maria, a Igreja...

É preciso ter muito cuidado com os candidatos "melancia": verdes por fora e vermelhos por dentro, ou seja aparentemente muito preocupados com meio ambiente, etc. Mas no fundo, impregnados da ideologia marxista, comunista, que por si mesma é materialista e ateia, o que não a impediu de gerar uma "teologia" que destrói progressivamente a Igreja e as outras comunidades cristãs chamada de "teologia da libertação".

Aqui também, apesar da confusão e da superabundância de partidos, é importante levar em consideração qual a liberdade que o candidato tem em relação ao seu partido. Sabemos que certos partidos, como é o caso do Partido dos Trabalhadores e seus afins (Comunistas, Socialistas etc) tem como posição partidária, por exemplo, o aborto e a ideologia de gênero. Assim, um candidato muito bonzinho e que até se considere católico ou evangélico, se está filiado a esse partido terá que votar de acordo com o partido, não de acordo com seu pensamento. E, por isso está, formalmente, excomungado.

Diante disso, surgem os candidatos católicos.

O que não traz boas recordações, uma vez que a maioria dos governantes que tivemos se diziam católicos, e temos aqueles que foram oficialmente reconhecidos por cardeais como "católicos a seu modo" (sic!!!!!!!!!!!!!!).

Mas há alguns diferenciais em alguns candidatos católicos que vêm surgindo. 

Primeiro são pessoas que não são conhecidas nas paróquias em geral. São fiéis que compreenderam que a missão da Igreja se concentra especialmente fora dela. E que, ao invés de lutarem na "política eclesiástica" (ser assessor de tal coisa na diocese, ser coordenador disso ou daquilo, ser ministro da eucaristia, ser diácono...) estão em caminhadas pró-vida, em manifestações à favor da família (nego-me até a morte de usar a expressão família tradicional!), que estão nos tribunais contra as blasfêmias promovidas pelos meios de "cultura"....

Para eles a Igreja não é palanque. A Igreja é Mãe, é Casa de Deus e Porta do Céu, onde se confessam, recebem os sacramentos, colaboram dentro do que sua vida matrimonial e civil permitem, mas sabem que o campo de batalha é fora. Não pescam na peixaria. Têm cheiro de mar, não de Praça XV. Estão no mar do mundo, ora vencendo, ora perdendo, mas lutando pelos direitos de Deus que os "homens de Deus" já entregaram numa bandeja de prata há muito tempo.

Querem servir à Igreja, não se servir d'Ela.

Seu projeto de governo não é obrigar uma conversão em massa à Igreja. Mas salvaguardar o direito à vida, a proteção à família, o direito dos pais em educar seus filhos. 

Não obrigarão todos os gays a viverem em castidade perfeita, nem irão fazer que seja um crime que se use roupas acima do joelho. Não tornarão lei ir à Missa aos domingos. 

Mas darão, com a graça de Deus, aquele primeiro passo, que, queira Deus seja continuado por seus sucessores, para termos o nosso Brasil de volta. Um Brasil que crê em Deus, que tem um povo pacífico e acolhedor, que tolera o erro, mas ama e defende a verdade. Um Brasil onde se vai à escola e à Universidade para se formar numa profissão, não para ser militante político.

Um Brasil que sonhamos e que começa nas câmaras de vereadores e nas prefeituras.

Esses candidatos não são perfeitos, cometem e cometerão erros. Mas temos razões para crer que se erraram, desejavam acertar. Sobre eles, as dioceses variarão entre o silêncio e mesmo a oposição (!) porque não são parte dos sinédrios atuais e, de repente, já bateram de frente com clérigos comunistas e desobedientes à Igreja, à sua Liturgia etc.

Mas num tempo em que o próprio Papa convoca os fiéis leigos a uma certa independência do clero, mais uma razão para olharmos com bons olhos aqueles que levantam a bandeira de Cristo Rei, mesmo que não sejam membros de pastorais, movimentos, conselhos e toda estrutura que a Igreja tem atualmente.

Muitos deles são conhecidos nossos, de repente, e poderíamos elencar até um outro atrito que tenhamos tido. Mas não votar numa pessoa porque um dia tive um atrito com ela é proporcional a votar numa pessoa porque colocou uma dentadura na minha avó...

Esquecer, em certo sentido, a pessoa. Ver seu projeto, ver seu partido, ver quem a apoia. Isso é mais importante. 

Que o Espírito Santo nos inspire e nos ilumine a votarmos com a consciência de que um futuro cristão ou pagão e satânico depende do que vamos apertar naquelas maquininhas.


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