NOVÍSSIMOS 1



Hoje em muitos lugares se "celebra" o "dia das bruxas", sendo assim, gostaria de dar meus parabéns a muitas pessoas, mas não vou citar seus nomes, porque, provavelmente nenhuma delas acompanhe esse humilde blog...

Foi só uma piadinha para descontrair porque trataremos nos três próximos dias sobre os novíssimos, as últimas realidades do homem. Hoje falaremos sobre o inferno.

O que é o inferno?

Ora em primeiro lugar é necessário recordar que o inferno é um lugar para onde vão as almas dos condenados e onde há realmente fogo, fogo material, que devora sem consumir as almas dos condenados.

Vamos detalhar um pouco isso.

Pensemos um pouco em nosso corpo. Todo sofrimento que temos, enquanto estivermos nessa vida, estão destinados a acabar. Ou acabam porque as coisas melhoram, ou porque morremos. Simples assim. Então, por pior que seja o nosso sofrimento, sabemos que ele ou vai aliviar, ou acabar. Também existe um certo limite que nós temos em relação a dor, de modo que diante de uma dor muito intensa, podemos desmaiar ou mesmo morrer. Mas tudo isso, deve-se ao nosso corpo.

Uma vez separada do corpo, a nossa alma que é mais nobre e que foi criada para viver a mais superlativa alegria da bem-aventurança celeste, também é capaz de viver o sofrimento mais atroz no inferno.

Mas como é o sofrimento do inferno? Ao contrário do sofrimento desse mundo, o sofrimento do inferno é eviterno, ou seja, tendo um início jamais terá um fim, nem alívio, nem diminuição. E é um sofrimento intenso, contínuo e infinitamente mais doloroso que todos os sofrimentos que se poderiam ter nessa vida ao mesmo tempo. O fogo natural, o fogo desse mundo, logo destrói nosso sistema nervoso e a pessoa queimada deixa de sentir dor. Porém o fogo do inferno não destrói absolutamente as nossas almas que são imortais, mas as atormenta para sempre. 

As dores morais são mais intensas que as dores físicas. 

Há pessoas que se matam por medo de morrer, tamanha é a intensidade de uma dor moral. Apenas a ameaça da morte (de uma morte cruel, violenta, com requintes de tortura) fez com que muitos condenados à morte tirassem eles mesmos suas vidas. Ou seja, o pensamento dos sofrimentos de suas mortes foram tão atrozes que levaram ao mesmo efeito, a morte. Por isso, não podemos imaginar que, antes da ressurreição dos mortos seja pequeno o sofrimento das almas no inferno. É um sofrimento moral intensíssimo, porém com a certeza de que a alma que agora sofre sozinha, retornará ao corpo que lhe serviu de instrumento de pecado e ele sofrerá indizivelmente e ainda mais, e sem nenhum limite, todo o suplício eterno dos condenados.

Mas esse não é o único sofrimento do inferno. No inferno não há amor. Portanto todos os que lá estão se odeiam, se odeiam a si mesmos, odeiam a Deus, e odeiam as outras almas que lá padecem. Tornando-se então carrascos uns dos outros e infligindo uns aos outros ainda mais penas e tormentos. 

Também todos os sentidos, cuja alma leva em suas perfeições, e que são plenamente saciados no esplendor da visão beatífica, são também atormentados no caso das almas dos condenados antes do juízo final (e com o corpo a partir dele), assim a audição escuta as mais terríveis blasfêmias, os sons mais horríveis, os xingamentos mais desesperados; o tato é atormentado por dores causadas pelo fogo, mas também como se todo o ser estivesse sendo devorado vivo por toda a sorte de vermes, particularmente nos locais onde o pecado teve mais poder; o paladar sente os gostos mais asquerosos como se estivesse se alimentando dos piores esgotos desse mundo; a visão não encontra nada de belo e suave em que descansar a vista; o olfato inala o que de mais poluído, sufocante e fétido se poderia jamais respirar no pior lugar desse mundo.

Há ainda, na questão dos sofrimentos morais três causas intensíssimas: a primeira é a de saber que se está ali unicamente por culpa própria, que não lhe faltaram ao longo da vida ocasiões e diversas ocasiões de conversão, de mudança e que todas elas foram rejeitadas conscientemente. A segunda é de que se está ali porque se buscou sensações e prazeres que agora se tornam fonte ainda maior de sofrimento. Tal como a glória dos bem-aventurados é proporcional aos sofrimentos que enfrentaram com alegria, o tormento dos condenados também se relaciona com os prazeres pelos quais sacrificaram suas próprias almas. Terceiro é o saber que estão na bem-aventurança aqueles que julgaram inferiores ao longo de sua vida. Assim o rico avarento e sensual é atormentado por saber que está na glória aquela moça pura que não cedeu às suas investidas pecaminosas ainda que cheias de promessas de dinheiro e luxo e que ele julgava ser uma burra.

Por fim, no inferno se vive o ódio de Deus. Aquele que é condenado ao inferno odeia a Deus como se Ele, bondade infinita, fosse o culpado de sua condenação. É como o aluno preguiçoso que culpa o professor por sua reprovação. Ora, mas Deus é exatamente o único desejo de nossas almas, então aquele que odeia a Deus, só por isso, jaz num tormento indizível semelhante a quem morrendo de sede, se negasse a beber água de uma fonte, porque odeia a água. Se a nossa alma nessa vida já sofre se estiver longe de Deus, imagine o sofrimento e ódio do inferno, reservado a quem rejeitou Deus e o trocou por dinheiro, prazer e confortos.

Porém, da mesma forma que nos é impossível descrever plenamente o céu, também não conseguimos descrever o inferno, senão através desses simples esboços que colocamos acima. Mas que esperamos seja o suficiente para que odiemos o pecado e o evitemos com toda violência.

Para não irmos para o inferno primeiro é necessário buscamos incessantemente estar sem consciência de pecado mortal. Alguém uma vez disse que quando pecamos, corremos para a confissão, mas o certo teria sido termos corrido do pecado quando fomos tentados... Bem, mas se não corremos do pecado, corramos para a confissão, porque não é pouca coisa que está em jogo.

Mas só o arrependimento e o desejo de confessar não são suficientes para alcançar o perdão de Deus? Na verdade, não. Pensemos que há vários níveis de arrependimento, e que na maioria das vezes nos arrependemos das consequências de nossos pecados, ou pelo fato de terem sido descobertos, dificilmente nos arrependemos do pecado em si, como ofensa a Deus que é tão bom.

Por isso, precisamos pedir constantemente a Deus a graça da contrição. A contrição não é o que pedimos entre o pecado e a confissão, mas é um bem a ser desejado e humildemente implorado ao longo de toda a vida.

Se não queremos ir para o inferno é fundamental que busquemos uma vida de oração conforme nosso estado de vida, tão intensa o quanto ele permitir, e que unida à essa vida de oração - onde certamente estará de modo digno e venerável o Santo Rosário com aquela oração que Nossa Senhora ensinou aos Pastorinhos: Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno...  - esteja também presente uma intensa vida de penitência, esta busca corrigir as más inclinações de nossos sentidos.

Penitenciar a visão: não olhando para fora do ônibus, do carro (a não ser que estejamos dirigindo...), evitando espetáculos lícitos, desligando mais a tv e a internet, ficando algumas horas longe do celular...

Penitenciar a audição: evitando ouvir sobre a vida alheia, obedecendo imediatamente ao despertador, fazendo mais silêncio.

Penitenciar o paladar: comendo menos o que se gosta mais e mais o que se gosta menos. Evitando de vez em quando certos alimentos que mais gostamos. Comer de vez em quando uma ervinha amarga, um limão sem açúcar...

Penitenciar o olfato: não cedendo à vaidade de certos perfumes, optando por fazer coisas que possam nos causar certa repugnância devido também ao olfato...

Penitenciar o tato: evitando deitar fora da hora de dormir, dormir o necessário, usar alguma coisinha que cause algum incômodo...

Tudo isso nos põe alertas contra o pecado e nos ajuda a considerar que se cedermos ao pecado, sofreremos infinitamente mais.

E sobretudo buscar amar. Amar a Deus que tanto nos ama e também ao próximo com todas as complexidades desse amor.

Amanhã, trataremos sobre o Paraíso. Até lá.

Pode entender essa última frase nos dois sentidos...


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