MISSÃO


No mês de outubro celebra-se a memória de Santa Teresinha do Menino Jesus que é, junto com S. Francisco Xavier, padroeira das missões. Por isso, tal como S. Jerônimo em setembro nos recorda as Sagradas Escrituras e S. Cura d'Ars em agosto nos lembra as vocações, o mês de outubro que é o mês do Santo Rosário - por causa da festa de Nossa Senhora no dia 07 e da última aparição de Nossa Senhora em Fátima no dia 13 - também se torna o mês das missões.

Todavia, ocorre com a missão o mesmo fenômeno que as vocações no mês de agosto. É certo que somos todos um povo de chamados, todos somos chamados por Deus. O matrimônio também é uma vocação e um caminho estupendo de santidade, mas até algum tempo atrás quando se pensava no mês de agosto se pensava na vocação sacerdotal, se enfatizava essa vocação, se rezava mais intensamente para que Deus enviasse mais santos sacerdotes... No entanto, como tudo na Igreja hoje é chamado de vocação, a vocação sacerdotal - literalmente - se perde no meio de tantas outras. Há ainda a confusão da vocação com a profissão.

Profissão é aquilo que exercemos graças aos dons e as graças que Deus nos concedeu e as nossas aptidões pessoais e naturais. Já a vocação é um chamado específico de Deus para uma vida inteira, não há férias, nem aposentadoria, nem décimo terceiro... Assim, o médico - e parabéns a todos por seu dia - possui grandes e maravilhosas aptidões que o conduziram a essa profissão (desde o gosto pelas ciências até ver sangue sem desmaiar), mas há algo mais forte na sua vida, a sua vocação, que ele concretiza como esposo, pai, ou mesmo uma pessoa consagrada pelo celibato. A vocação nem sempre está ligada às aptidões, e às vezes até é um pouco contrária, como por exemplo uma pessoa muito loquaz pode ser chamada à vida monástica, uma pessoa muito tímida ser chamada ao sacerdócio secular, etc...

E nesse mesmo caminho encontramos essa palavra cheia de significado: missão.

A missão está intimamente ligada ao ensino da doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não se pode compreender de forma católica uma separação entre missão e ensino. Nosso Senhor mesmo une as duas coisas: "Ide (envio, missão) e ensinai (explicai a doutrina)".

Eu posso hoje pegar um avião e ir para um lugar onde nunca o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo foi anunciado. Chegando lá, construo minha casa, faço até um oratório, rezo de vez em quando, mas vivo minha vida sem ensinar a doutrina. Não sou missionário. Posso desenvolver um trabalho social ou profissional, posso ajudar as pessoas, mas sem anunciar explicitamente o nome de Jesus Cristo não sou missionário.

Quando ordena ensinar, Nosso Senhor nos faz supor que há um algo novo em sua Doutrina que embora em grande parte já esteja no coração de cada homem, necessita ser trazido à luz. E que também há coisas incompatíveis com a sua doutrina que necessitam ser totalmente rejeitadas por quem quiser ser salvo, são as falsas religiões.

O diálogo é muito importante. Mas Nosso Senhor não abriu uma firma de marketing onde podemos negociar o melhor preço da salvação, ou estabelecer, de acordo com nossas ideias pessoais, que cada um siga sua religião de forma reta e já está de bom tamanho. Instituiu uma Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica que, quem quiser salvar-se, deve estar unido à Ela e professar, sem acrescentar nem retirar nada, a sua Santa Fé.

Nosso Senhor não disse: "Ide e dialogai", mas "Ide e ensinai".

O diálogo é importante como um primeiro passo, tal como faz S. Paulo no Aerópago de Atenas, mas não pode retardar a urgência do anúncio de Nosso Salvador. O ensino não é de modo algum um exercício de soberba, mas de profundíssima humildade, sabendo que por causa de nossa fé podemos perder amigos, posições e mesmo a vida. Os missionários autênticos, muitos deles mártires, desapegaram-se até da própria vida para cumprir o duplo mandato do Senhor: "Ide e ensinai."

Qualquer um que se põe a ensinar a autêntica Doutrina de Nosso Senhor, em terras de missão: China, Índia, Colégios Católicos, Paróquias já terá sofrido o impacto de ser rejeitado como o foi Nosso Senhor, mas também de saber, e, às vezes ter a graça de ver, que a semente que cai em terra boa produz o seu fruto.

A necessidade da missão surge porque sabemos que fora da Igreja Católica não pode alguém salvar-se. Se basta a cada um viver sua própria religião com uma consciência mais ou menos reta, implodiu-se a missão na Igreja. Aliás é o que vemos acontecer. Muitos que se autodenominam missionários, decidiram "ser presença" entre povos não cristãos, considerando-os como não necessitados de remissão alguma, nem do anúncio do Evangelho. Muitos acabaram por adotar os costumes e elementos da religião dos povos que deveriam ter evangelizado...traindo a missão, traindo a Igreja, traindo a Deus.

Deixaram-se convencer pelo espírito revolucionário que ensina que quanto mais primitivo for um homem - ou seja, quanto mais distante estiver da civilização marcada pelo cristianismo - tanto mais puro e bom ele é.

Tornaram-se agentes sociais (que para quem tem as devidas aptidões é uma profissão importante e nobre), mas não são missionários.

Nenhum católico pode ter sossego enquanto souber que uma alma corre o risco de perder-se por desconhecer a verdadeira fé.

O erro é tolerável com o erro, como a sombra e a noite. Mas a verdade opõe-se naturalmente ao erro até que ele seja extinto, como a luz às trevas. Para os que seguem a maioria das falsas religiões, a religião não é importante, basta respeitar "as liberdades". Mas para quem é católico a primeira liberdade é a liberdade da verdadeira fé, é a liberdade para a qual Cristo nos libertou.

Ao vermos o nosso mundo e o estado atual das coisas, compreendemos que toca a cada um de nós ser missionário em todos os lugares, reais e virtuais, trazendo conosco o Santíssimo Nome de Cristo e a necessidade de que todos façam parte da única Igreja desejada e fundada por Ele.

Tragamos à nossa oração esse zelo missionário, particularmente em relação aos maometanos que Santo Afonso dirá que são os mais difíceis a serem convertidos, mas também pelos judeus, pelos protestantes, pelos "católicos a seu modo" e por todos os que ainda não estão naquele único rebanho do único e bom Pastor.



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