MAÇÃS

 

Conta-se que um senhor possuía um belo pomar que lhe rendiam centenas de maçãs. Porém, uns garotos da vizinhança, vez por outra, pulavam o muro do senhor e comiam algumas maças. O senhor muito irritado com isso teve uma ideia que julgou resolveria seus problemas: colocou um aviso na entrada da propriedade. Dizia o aviso: "Uma das maçãs está envenenada", e assim ele realmente tinha feito.

É claro que ele sabendo qual era a maçã não a comeria, nem a venderia. E os meninos, sem saber qual era, não comeriam nenhuma. 

Só que os meninos ficaram também com muita raiva. E para se vingarem do homem riscaram, alteraram, o cartaz que ele tinha posto, com uma "novidade": "Duas maçãs estão envenenadas". 

Agora nem o homem podia comer e nem os garotos. Uma vez que um não sabia qual a que tinha sido envenenada pelo outro.

Poderia haver centenas, milhares de maças boas, suculentas, saudáveis e, é claro, sem veneno. Mas as duas envenenadas colocavam sob suspeita e, por conseguinte, faziam perder, toda a plantação.

Essa história, meus amigos, eu lhes conto para falar sobre a doutrina da Santa Igreja e aqueles que a devem ensinar. Da boca do sacerdote só devem sair boas maçãs, a boa doutrina. Se junto com a boa doutrina, misturam-se doutrinas heteredoxas, errôneas, envenenadas, toda o ensinamento se perde. O erro daqueles que querem conciliar a Igreja com um mundo pagão não é o que falam de mal, mas o que falam de bom. Porque o que falam de bom, ainda que seja pouco, dá aos fiéis a ideia de que são conduzidos por autênticos pastores e é usado por seus bajuladores para tentar provar que não caem em heresia quando ensinam o que não é a doutrina da Igreja.

A mentira é tanto mais danosa quanto parecida com a verdade. Aquele que diz ter visto um búfalo com asas provoca risos, aquele que diz que viu a esposa do amigo com outro homem semeia discórdia, desconfiança e ódio; ainda que as duas coisas sejam mentira.

Assim, a doutrina morna, ou seja nem quente pelo fogo do Espírito Santo que aquece a Igreja, nem fria pelo sopro do demônio que nega tudo o que for a verdade de Deus, é a mais danosa que existe. Porque mistura em seu interior partes de mentira e de verdade, partes de doutrina e heresia, partes de remédio e de veneno, gerando um caos nas almas.

A justificativa para a mudança da reta doutrina será, por exemplo, dizer que houve "uma nova compreensão" sobre aquele assunto. Mas se a nova compreensão, consiste em dizer o oposto, o que temos não é mais uma nova compreensão, mas uma negação do que fora afirmado anteriormente.

Por exemplo, eu posso dizer que suicídio é pecado mortal e que quem morre em pecado mortal vai para o inferno. Mas, levando em conta os estudos psicológicos e psiquiátricos, eu posso reconsiderar que, sendo o suicídio um pecado mortal, o suicida concretamente poderia estar fora de suas capacidades psíquicas para poder livremente consentir na ação que é pecado mortal. Assim, ele pode ter a mesma culpa que se atribuiria a um doente mental ou a quem é incapaz de conhecer uma ação do ponto de vista moral.

Então, embora nunca tenha havido uma afirmação da doutrina da Igreja de que todos os suicidas vão para o inferno (mas duas afirmações distintas: 1. suicídio é pecado mortal; 2. quem morre sem se arrepender em estado de pecado mortal é condenado ao inferno), hoje a Igreja pode compreender melhor e rezar mais por esse mal que cresce que cada vez mais em nossa sociedade, pode inclusive aconselhar a que se recorra aos métodos da medicina para evitar esse mal.

Completamente diferente é o caso do adultério ou do concubinato. São pecados. Não existe uma circunstância em que pessoas batizadas que vivam como marido e mulher, mas não tenham o sacramento do Matrimônio não estejam em pecado mortal. E nesse caso, não é um desiquilíbrio psiquiátrico que os fez agir assim, mas uma deliberação consciente de sua vontade e inteligência. Como quem está em pecado mortal está privado de receber o Sacramento da Eucaristia (e qualquer sacramento exceto a Confissão e a Unção dos Enfermos), sob pena de sacrilégio, aqueles que vivem em adultério ou concubinato não podem receber a Comunhão.

Se eu digo: quem vive em adultério ou concubinato está em pecado mortal e não pode comungar. E depois alguém diz: quem vive em adultério ou concubinato, pode não estar em pecado mortal e pode comungar; o que aconteceu não foi uma evolução, mas uma contradição. E tal como uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, as duas frases que se contradizem não podem ser igualmente corretas.

Queridos amigos, se o pastor abandona ou trai o rebanho, cabe às ovelhas defenderem-se. 

Não se defenderão cada uma por si, mas irão, ainda que sozinhas, para o redil da fé, fecharão a porta da doutrina, alimentar-se-ão com os santos sacramentos, chorarão e rezarão pedindo ao Senhor que abrevie esse tempo e retire da humilhação a Sua Santa Igreja.

Não é tempo de calar.

Cada fiel católico têm o dever de afirmar a doutrina que a Igreja recebeu do próprio Senhor, mesmo que aqueles que receberam esse mandato o deixem de fazer. A defesa da fé e da própria Igreja não é um direito, mas uma obrigação de todos aqueles que foram batizados. Resistir às doutrinas envenenadas e revelar que estão envenenadas é hoje a grande obra de amor para com Deus e de misericórdia verdadeira para com os irmãos.

Nossa Senhora, que sozinha vence todas as heresias, Ela que é ao mesmo tempo pequena e grande, cordeiro e leão, Ela que é "terribilis ut castrorum acies ordinata", combate conosco pela fé que seu Filho nos legou e pela qual Ela, mais do que qualquer outra pode ser chamada de Virgem Fiel. Ela faça-nos fiel, não às modas, mas à Verdade, ou melhor Àquele que é a Verdade.



Comentários