DÍVIDA


 

Quando pensamos hoje na Venezuela, temos um sentimento de tristeza por sabermos a triste e miserável situação em que a maioria daquela população vive. Mas houve um tempo em que não era difícil ter boas condições financeiras por lá, especialmente por causa de questões referentes ao petróleo.

Num encontro com numerosas pessoas ligadas ao Opus Dei, S. Josemaría, quando esteve na Venezuela, ouviu a pergunta de um pai de família numerosa cujos filhos às vezes desejavam ainda mais conforto e... dinheiro.

O Santo aconselhou aquele homem a, vez por outra, visitar com os filhos os bairros mais pobres por duas razões: em primeiro lugar para que eles descubram "o mundo real", que para muita gente as coisas são bem difíceis e que ao invés de reclamar pelo que não temos, devemos agradecer pelo que temos; segundo para despertar a generosidade deles, para que se disponham a ajudar também materialmente quem possui menos que nós.

Hoje celebramos o dia de S. Edwiges, comumente chamada de "padroeira dos endividados", mas hoje, na minha oração da manhã, tive uma experiência mística: S. Edwiges apareceu para mim e disse que gostaria de deixar de ser padroeira dos endividados para ser padroeira dos que se endividam para ajudar o próximo.

Tá.

Não foi bem assim. Ela não apareceu, foi só um pensamento que me ocorreu.

Se olharmos com sinceridade, nem sempre as nossas dívidas são por coisas necessárias, menos ainda pela necessidade dos outros. Muitas vezes nos endividamos por coisas supérfluas, e não seria muito certo recorrermos ao céu para mantermos nossas futilidades.

Mas, e se nos faltasse porque damos demais? E se fôssemos tão generosos que acabássemos por perceber que faltou para nós? E se seguíssemos a ordem d'Aquele que nos mandou dar duas túnicas, dar o manto e caminhar dois quilômetros?

Não faltaria.

Porque estaríamos naquele ciclo do pássaro a quem nunca falta alimento, do lírio que não precisa buscar roupa para si. O ciclo da Providência.

S. Edwiges soube usar de seus bens para os pobres até que, sem nada pudesse entregar-se totalmente a Deus no mosteiro onde sua filha era abadessa. "Se quiseres ter tudo, não busque nada" lembrava S. João da Cruz. Busquemos viver isso.

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