CONFISSÃO


Certos assuntos nunca estão suficientemente esgotados. E ainda que sejamos repetitivos, é bom voltar a eles devido à sua imensa importância para a salvação de nossas almas. Por isso, vamos tratar sobre o Sacramento da Confissão. 

Todo aquele que foi batizado, tenha atingido o uso da razão e seja capaz de reconhecer que cometeu pecados ao menos veniais DEVE se confessar. Dois erros muito comuns são esperar a proximidade da primeira comunhão para a confissão (o que no sistema paroquial muitas vezes marcado mais pela burocracia do que pelo cuidado com as almas é, geralmente uma catástrofe) e a mentalidade de que, sendo os pecados veniais perdoados na Santa Missa, a confissão ficaria apenas para os pecados mortais, outra catástrofe.

Vejamos esses dois erros. Supõe-se, especialmente seguindo as insistentes orientações de S. Pio X que as crianças recebam a comunhão tão logo possam discernir a Santíssima Eucaristia de um pão ordinário, e que, nessa mesma época, ou mesmo antes, a criança já é capaz de ter certo discernimento de que fez coisas boas ou "coisas feias". Nesse caso, tanto a confissão quanto a comunhão já lhe são um direito.

Porém, a catequese que deveria ser uma prerrogativa dos pais cristãos, muitas vezes se torna um monopólio da paróquia, feito em nome da "inserção da criança na comunidade" e outros jargões do tipo, prolongando demasiadamente o tempo e, na maior parte das vezes, ocupando a criança com atividades e outras coisas que podem até ajudar no seu desenvolvimento psicossocial, mas que não lhe ensinam a doutrina católica. E como tratam-se de anos, uma criança de 7 anos ou um pré-adolescente de 11 passarão pelo mesmo período, retardando a Santa Comunhão que, para S. Pio X deveria ser, desde o mais cedo possível, um escudo contra os vícios e os pecados.

A consciência de que "fez coisa feia" e uma dedicada catequese dos pais já torna a criança capaz de confessar-se com um confessor experimentado e se a criança ao ver o sacrário entende que ali mora "Papai do Céu" está apta a comungar. Simples assim.

O segundo erro é a ligação da confissão com os pecados mortais. Sim, é verdade que um dos efeitos da Santa Comunhão é o perdão dos pecados veniais, mas isso não PROÍBE que um fiel confesse os mesmos pecados veniais (pelo menos aqueles dos quais tem consciência). Aliás, é unânime entre os Santos a prescrição e a prática (salvo casos extremos) da confissão a cada oito dias, ou seja, toda semana. E essa prescrição e prática dos Santos não significa que estivessem orientando ou que eles mesmos cometessem semanalmente pecados mortais.

A confissão frequente é uma devoção. Tal como buscamos o Santíssimo Sacramento não apenas para comungar, buscamos a confissão não apenas para receber o perdão dos pecados mortais, mas para reavivar em nós a misericórdia de Deus também sobre os pecados veniais deliberadamente cometidos, ou mesmo sobre imperfeições que embora não constituam pecados são óbices à graça divina.

Mas muitas pessoas têm dificuldade em distinguir o que é um pecado mortal de um venial. De uma forma simples poderíamos dizer que Deus instituiu uma lei, os mandamentos, e que existem ofensas diretas e indiretas aos mandamentos. As diretas são os pecados mortais, as indiretas são as veniais. Pensemos em alguns mandamentos.

O primeiro mandamento da Lei de Deus é amá-lO sobre todas as coisas. Portanto, em certo sentido, todo pecado é uma ofensa contra o primeiro mandamento. Mas há uma diferença entre cometer um pecado contra o décimo mandamento e odiar deliberada e abertamente a Deus...

Quanto ao terceiro Mandamento, por exemplo, se fomos à Missa não cometemos pecado mortal. Mas se nos colocamos em risco de atraso por falta de organização (e amor), se participamos com distrações voluntárias etc, então cometemos pecados veniais.

Quanto ao quinto, matar, tentar matar ou desejar conscientemente e sem buscar afastar esse mau pensamento sobre alguém (ou si mesmo) são pecados mortais. Xingar de barbeiro um mau motorista é venial.

Dois mandamentos que muitas vezes confundem as pessoas são o sexto e o nono. Como critério poderíamos pensar assim: o sexo foi instituído por Deus para ser vivido na INTIMIDADE de MARIDO E MULHER, e ABERTO À VIDA. Qualquer prazer ou experiência sexual obtidos fora dessas três condições constitui pecado mortal: pornografia (a publicação do que devia ser íntimo); a masturbação,  fornicação (sexo fora do casamento) e o adultério; e os meios não naturais para que daquele ato não se possa ter uma concepção, são pecados mortais. Porém, um olhar descuidado na rua que se desvia imediatamente, um pensamento que consentido num momento, em seguida se busca afastar etc são veniais.

A pessoa que confessa pecados veniais não é escrupulosa. Escrupulosa, por exemplo, é a pessoa que se considera em pecado mortal sem saber exatamente o porquê, ou que não distingue pecados veniais e mortais, considerando-se sempre à beira da eterna condenação.

Ao confessar precisamos observar os 4C da confissão.

1. CLARA: Na confissão não podemos querer ocultar pecados, ou dizê-los de uma forma que o confessor não possa compreender o que de fato aconteceu. 

2. CONCISA: Falar o mínimo possível.

3. CONCRETA: Expor, caso necessário, circunstâncias e fatos que possam ajudar o confessor a orientar melhor o penitente. Por exemplo: não basta acusar-se de maus pensamentos. Os maus pensamentos podem ser um pecado contra todos os mandamentos: pode ser blasfêmia, pode ser distrações, pode ser crítica aos pais, pode ser pensar em matar uma pessoa, pode ser pensar em trair o cônjuge, pode ser pensar em roubar, pode ser inveja etc etc. É necessário dizer: "Tive maus pensamentos contra... (Deus, meus pais, a castidade, a santidade do meu casamento, os bens alheios...)

4. COMPLETA: Não ocultar por vergonha nenhum pecado mortal. E, pelo menos ter uma estimativa de quantas vezes aconteceu cada pecado. Imagine por exemplo, uma pessoa que uma vez pensou em se vingar de um motorista que lhe deu uma "fechada" e uma esposa que desde a última confissão, na semana passada pensou 475 vezes em matar o marido...

Por fim, não poderia deixar de lamentar o fato de que não encontramos muitos padres disponíveis para atender confissões e, nos lugares onde às vezes há essa disponibilidade o padre nem sempre terá a sensibilidade de compreender que aquele fiel busca a confissão não porque cometeu um pecado mortal, mas por devoção, para aumento da graça, para o perdão daqueles pecados veniais, podendo até acontecer situações de broncas do confessor para com o fiel... É triste, mas é possível. 

Nesse caso, orientaria a que, busque-se a confissão semanal a todo o custo. Se o sacerdote não tem muita paciência em ouvir, acuse-se de um ou dois pecados veniais (supondo que não há nenhum mortal), e quando estiver com seu diretor, traga ao conhecimento os pecados veniais mais recorrentes para que possa orientá-lo com mais diligência.

E vivamos sempre a alegria da reconciliação com Deus.



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