SERVO


 Celebramos a memória de S. Pedro Claver.

Nascido na Espanha, ingressou na Companhia de Jesus e pediu para vir como missionário para a América. Chegando aqui, concretamente na Colômbia, foi ferido em sua alma pelo fato da escravidão. 

De fato, em grande parte graças aos jesuítas, fora proibida pela Igreja a escravidão dos índios. Mas a "obediência" dos grandes senhores à essa proibição não era por temor à Igreja, mas pelo fato de que, como nativos, os índios conheciam bem o território e podiam fugir com facilidade. 

Então, a solução encontrada para a realização do trabalho em lavouras, minas etc seria a importação de escravos vindo da África, em sua maioria prisioneiros de guerras de outras tribos africanas, vendidos pelos próprios africanos e transportados para cá pelos europeus em condições sub-humanas e sob ameaças e terrores como o boato que espalhavam que estavam vindo para um lugar onde seriam comidos...

Também a escravidão dos negros foi proibida pela Igreja, mas como eram "eficazes" para os senhores, fizeram-se de surdos às determinações veementes de dois Papas. Desse modo, não tinha outra possibilidade do que a questão da escravidão se tornasse um "negócio" lucrativo para os compradores, vendedores e senhores de escravos. 

S. Pedro Claver, ao proclamar definitivamente seus votos como jesuíta, quis assinar: "Pedro Claver, servo dos escravos africanos", e assim se fez durante sua vida.

Estabeleceu um método de atuação. Foi morar exatamente no porto onde os escravos chegavam, conhecendo um pouco de suas línguas, buscava confortá-los, dar-lhes algum consolo, curar os que estivessem doentes ou fracos. Nessa época surge já a fama de que quem pusesse sobre si a capa que fazia parte do hábito jesuíta de S. Pedro Claver ficava curado de toda doença.

E oferecia a eles seu maior tesouro: a fé cristã. 

Batizou centenas de milhares de escravos, o que além de todos os benefícios espirituais faria com que os senhores tivessem que ser menos cruéis com esses, uma vez que haviam se tornado cristãos.

Todos os anos, ia por toda a Colômbia, em todas as lavouras e campos de trabalho para ver como estavam sendo tratados os escravos, para protestar diante das autoridades contra as crueldades, e, nessas ocasiões dormia com os escravos na senzala, jamais na casa dos senhores.

Já velho e doente, impossibilitado de continuar sua missão, recolhe-se numa casa dos jesuítas que empregam um ex-escravo para cuidar do Santo. Este cuidador, porém, trata-o de uma forma cruel, desleixada e má. Jamais o Santo reclamou dos cuidados, ou da falta deles, ao contrário, considerava como um castigo de Deus pelos seus inúmeros pecados.

Enquanto vivo, era odiado pelos senhores e pelas autoridades. 

Quando morreu, o povo arrombou as portas da casa e invadiu o seu quarto, recolhendo tudo o que pudessem para venerar como relíquia do Santo. Vendo o amor que lhe tributava o povo, o governo num ato de hipocrisia quis dar a S. Pedro Claver os lutos e as cerimônias mais solenes. E assim foi sepultado.

Queridos amigos, S. Pedro Claver não aboliu a escravidão. Não acabou com o tráfico de escravos. Mas fez o que pode para aliviar seus sofrimentos.

Nós somos tentados a solucionar quando Deus manda aliviar.

 A solução de muitos problemas e de muitas dores não está em nossas mãos, mas o alívio sempre está.

É significativo que S. Pio de Pietrelcina ao construir um "Hospital" quis chamá-lo de "Casa de alívio do sofrimento", talvez como um modo de dizer que nem todos seriam curados, não seria um hospital de milagres e de curas apenas, mas ninguém poderia deixar aquele lugar sem receber ao menos um alívio.

Aliviar.

Geralmente aliviar para nós parece inútil, ou até mesmo um modo de nos tornarmos cúmplices de um erro.  Como aqueles que pensam que dar esmola aumenta a pobreza...

Mas é justamente isso a única coisa que podemos fazer na imensa maioria das vezes em que encontramos alguém que sofre.

Que nessa quarta-feira, S. José e S. Pedro Claver nos façam compreender o quanto vale diante de Deus e no coração do próximo o alívio que sempre podemos lhes dar.

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