DOR

 


Há algo quase que instintivo em determinadas devoções do povo católico em recorrer aos santos que sofreram, em maior medida, certos males que padecemos, na compreensão de que: tendo eles sofrido tanto do mesmo mal, ou de algo semelhante, possam alcançar de Deus que sejamos livres do mal que nos aflige.
Assim, Santa Águeda, cujos seios foram arrancados em seu martírio, torna-se uma protetora dos males que atingem os seios; S. Dionísio, que foi decapitado, é invocado contra as dores de cabeça etc.
Mas quando nos referimos à Nossa Senhora das Dores, a perspectiva que a liturgia nos apresenta é outra, ou melhor, é oposta.
Ao celebrar as sete dores de Maria, a Igreja não pede que sejamos livres de nossas dores, ao contrário, pede que a Virgem compartilhe conosco as suas.
"Preclara Virgem das virgens, não sejais amarga para comigo, divide comigo as tuas dores!", diz a Seqüência Stabat Mater, para a festa de hoje.
Partilharmos as dores de Maria.
Aquelas sete cuja tradição piedosamente recolhe: 1. A profecia de Simeão; 2. A fuga para o Egito; 3. A perda de Jesus aos 12 anos; 4. O encontro no caminho do Calvário; 5. A morte do Senhor; 6. O recebimento  do  corpo morto de Jesus em seus braços; 7. A sepultura de Jesus.
Mas também as dores que ainda ferem o Imaculado Coração de Maria: os nossos pecados, a indiferença e o secularismo do mundo; a perda da inocência das crianças, a depravação de boa parte do clero, a doutrina comunista; a devastação da Igreja Católica...
Não podemos assistir passivos a isso, como se não fosse de nossa conta. Ao contrário: não só são da nossa conta, como precisam ser nossas dores, porque são dores de Maria.
Vivemos em, certo sentido, uma "semana da cruz": inaugura-se com a Exaltação no dia 14, hoje as Sete Dores de Nossa Senhora, dia 17 a impressão dos estigmas de S. Francisco, dia 20 a impressão dos estigmas de S. Pio e, já fora até dos sete dias, no dia 23 a comemoração litúrgica de S. Pio de Pietrelcina.
E nessa semana a Cruz se apresenta a nós como glória, como sofrimento, como identificação total com Cristo, como meio de apostolado.
Hoje, tenhamos essa compaixão que a festa litúrgica nos pede.
Pensaremos em pedir que Nossa Senhora tire nossas dores, e não é que isso seja errado.
Mas podemos ir um pouco além, podemos ter uma fé mais amadurecida e provada, e dizer com a seqüência: reparte tuas dores comigo. E que, se a Virgem nos ouvir, não digamos que pedimos isso "de brincadeirinha", mas como homens e mulheres maduros e fiéis, encontremos nas várias faces da cruz a alegria, a dor e a glória.
 

Comentários