DOCE

 

"Padre, meu filho ganhou esse saquinho de uma senhora lá da rua. Ele pode comer?"

Pergunta uma mãe enquanto os olhos do seu filho crescem a cada segundo em direção ao maravilhoso saquinho repleto de doces...

Como responder a essa pergunta? E, muita gente têm essa dúvida.

Como gostamos de respostas completas vamos desde o início.

Quem foram Ss. Cosme e Damião? Pouco sabemos deles: eram da Síria, com certeza irmãos, provavelmente gêmeos, ao que tudo indica eram médicos e com certeza sofreram o martírio.

Aquilo que falta à uma "biografia completa" a piedade popular e a tradição cristã acrescenta elementos que além de terem grande probabilidade de serem verdadeiros, estão ligados a como um bom cristão se comportaria em certas ocasiões.

Muita gente não gosta de médico. Não é nada pessoal, mas é que o procurar o médico (o que muitas vezes já é um sofrimento) é sinal de que algo não vai bem. E o médico, por sua vez, identificando o problema indica um tratamento que também nem sempre é fácil de fazer, especialmente por questões de dinheiro... E isso é tão antigo quanto andar pra frente.

Então conta-se que Ss. Cosme e Damião não eram procurados pelos doentes, mas os procuravam. Ao invés de esperarem ser solicitados, buscavam saber se alguém não estava bem e iam ao encontro do doente. E, sabendo que, na imensa maioria das vezes, eram pessoas muito pobres, os santos irmãos deixavam saquinhos com moedas, para que o doente pudesse comprar os remédios e fazer o tratamento adequado.

Nesse ponto a sua história recorda também a de S. Nicolau que deixava saquinhos com moedas ou presentes para as pessoas na noite de Natal... 

E, como da história de S. Nicolau criamos o costume de dar presentes na noite de Natal. Criou-se, especialmente em Portugal, o costume de dar saquinhos de doces na Festa de Ss. Cosme e Damião. Outra curiosidade é que o culto aos dois irmãos nem sempre foi junto, por exemplo, a Igreja que S. Francisco reconstrói em Assis era dedicada apenas a S. Damião, daí que o Crucifixo dessa Igreja, hoje conhecido no mundo inteiro, seja originalmente chamado de Cruz de S. Damião. 

Mas esses dois Santos têm também um outro papel na Igreja: seu nome está inserido no Cânon Romano e isso mostra duas coisas: que todos os fiéis são chamados à santidade (a diferença dos demais santos não são pessoas "consagradas", mas fiéis leigos, profissionais da saúde... e a universalidade da Igreja, uma vez que (como outros santos nomeados no Cânon) não são romanos, mas sírios.

O culto conjunto a ambos os irmãos é um costume português e uma das primeiras igrejas no Brasil vêm a ser exatamente consagrada ao seu patrocínio. E de Portugal vêm também o costume dos doces... Queridos amigos, cada vez mais nossa sociedade perde suas referências católicas. E a própria pandemia parece ser instrumentalizada para isso. Mas a Igreja têm ou teve belíssimos costumes que influenciavam grandemente a sociedade. Hoje esses costumes são paganizados (ou retornaram à sua origem pagã), sem nenhum vínculo com Nosso Senhor Jesus Cristo: assim o Natal é a Festa do Papai Noel, a Páscoa é a do coelhinho etc etc.

Mas em relação aos doces de Ss. Cosme e Damião ocorreu outra coisa.

Os Santos Cosme e Damião, às vezes tendo acrescentados a si um "terceiro personagem" que a Igreja Católica desconhece foram identificados num sincretismo com espíritos infantis aos quais prestavam culto (se esses espíritos são deuses, semi-deuses, espíritos ancestrais é muito difícil de definir porque as próprias religiões não possuem uma unidade doutrinal, seguindo tradições bem variadas) e a distribuição de doces gera esse "frenesi" em relação às crianças que em pequenas multidões aguardam os carros passarem.

Isso posto, coloquemos o seguinte: 

1. Ss. Cosme e Damião são santos católicos, mártires sírios que a Igreja venera de tal modo que pôs seus nomes na próprio cânon da Missa.

2. O costume dos doces de Ss. Cosme e Damião é equivalente aos presentes de Papai Noel, aos cartões de namorados e amigos no dia de S. Valentim...

3. É um costume católico que pessoas de outras religiões também passaram a seguir.

E agora, come-se ou não?

O garotinho - lembram dele-  está quase desmaiando...

O Apóstolo S. Paulo ensina que não se deve comer da carne imolada aos ídolos, não porque elas tenham alguma força sobrenatural, mas porque quem visse um cristão comendo da carne imolada poderia achar que ele participava dos sacrifícios rituais oferecidos aos deuses. Só que a carne imolada aos ídolos não é um costume cristão, como os doces.

Então eu respondo que, ninguém é obrigado a comer. Mas quem comer não faz mal algum. 

Aliás proporia que muitos católicos, se tivessem condições, comprassem uns docinhos e saquinhos e saíssem para distribuir também doces, especialmente nos lugares mais pobres. Se perguntarem se você é de outra religião explique que você é católico e só está seguindo um costume dos católicos portugueses a quem devemos nossa fé.

Mas talvez alguém diga que só "os macumbeiros" fazem isso. E você responde que Deus pedirá contas a você da sua vida, não da vida dos outros, e que da mesma forma que você não vai deixar de ser devoto de S. Jorge, S. Bárbara ou S. Sebastião só porque outras religiões também os honram (ou os honram como um símbolo de outra realidade), vamos seguir com nossa cultura católica e nossas tradições católicas.

Por fim, muitos poderiam perguntar por uma suposta "contaminação espiritual" que esses doces poderiam ter. Quanto isso, Nosso Senhor mesmo já respondeu que o que entra no corpo humano vai para o estômago e depois para a fossa. Que nada de fora "contamina" o homem, mas que é do coração humano, do interior do próprio homem, que nascem as verdadeiras contaminações que são os pecados.

Há pais que não permitirão que seus filhos cheguem perto de um saquinho de maria-mole, mas os deixam à mercê da TV, do celular, das redes sociais, sem controle algum! De onde podem vir mais contaminações?

Peçamos a intercessão de Ss. Cosme e Damião, especialmente pelos que os honram sem o saber, para que um dia todo esse amor que realmente têm, esteja dentro daquele grande amor que só na Igreja Católica se pode encontrar.

PS. E a data? Afinal Ss. Cosme e Damião é hoje ou amanhã? Então... coisas da Reforma Litúrgica... o dia de S. Vicente de Paulo antigamente era dia 19 de julho (tanto que a primeira aparição de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa se deu por essa ocasião) e Ss. Cosme e Damião eram dia 27. Com a Reforma do Calendário, S. Vicente veio para o dia 27 e Ss. Cosme e Damião foram para o dia 26... mas é assunto para outro dia.



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