ANTES

 

Hoje a Igreja celebra a memória de S. Gregório I, realmente Magno, ou seja, um dos maiores Papas que a Igreja já teve. Tendo tido uma carreira política, decide abraçar a vida monástica e converte sua própria casa num mosteiro, vivendo sob a regra de S. Bento, do qual será o primeiro e mais abalizado biógrafo.

Celebramos sua memória no dia em que subiu à Cátedra de S. Pedro, há exatos 1.530 anos.

A vida de S. Gregório poderia ser dividida em 4 momentos: a carreira política em Roma, da qual chegou a ser prefeito, como o tinha sido seu pai; a vida monástica no mosteiro que fundou sob o patrocínio de S. André, por quem tinha especial devoção; o tempo como apocrisiário (representante do papa) em Constantinopla, e o Papado.

A única opção realmente sua foi a de ser monge.

As outras foram frutos das circunstâncias e das suas incríveis habilidades intelectuais e políticas.

Quando se tornou Papa, S. Gregório teve um grandíssimo cuidado com a oração e, particularmente com a Liturgia da Missa. A forma final do cânon romano se deve à ele, particularmente que o sacerdote dissesse em voz alta as palavras "nobis quoque peccatoribus" para que os fiéis soubessem que o padre já estava na última oração do cânon e a introdução do nome das mártires Águeda e Luzia na segunda lista de Santos. Essa introdução de duas mártires sicilianas (Catânia e Siracusa) eram uma forma de Gregório mostrar o amor que sentia pela Sicília, dentre outras razões por ser a terra natal de sua mãe.

Ele reúne os cantos litúrgicos, os compõe, os cataloga; por isso o canto litúrgico oficial da Igreja terá o seu nome: Canto Gregoriano. Aqui, seria bom recordar a afirmação de S. Pio X que o canto é tanto mais próprio à Santa Liturgia quanto mais próximo, parecido, ele for com o canto gregoriano...

Esses, dentre tantos outros, são os grandes feitos desse grande Papa. Mas gostaria de expor algo de sua intimidade. Os Santos foram pessoas como nós, muitas vezes com as mesmas lutas e até mesmo os mesmos fracassos.

Nesse blog continuamente falamos sobre a necessidade da oração, porque, de fato, como dizia Santo Afonso: "quem reza se salva; quem não reza se condena..." E S. Gregório experimentou em alguns momentos de sua vida uma dificuldade para rezar e, mais ainda, para rezar bem. Mas ele pode descobrir a causa dessa dificuldade e isso quero trazer para vocês.

S. Gregório percebeu que a sua dificuldade na oração não estava propriamente na oração, mas no que acontecia ANTES da oração. Como prefeito, como apocrisiário e como Papa sua vida era permeada de encontros, compromissos, discussões, tentativas de tratados... e ainda tinha o apostolado que o devia tornar próximo às pessoas. Assim, estando com outras pessoas e tendo que discutir assuntos que nem sempre tinham diretamente a ver com Deus ou com a vida espiritual, mas problemas concretos políticos ou do governo da Igreja, sua mente dissipava-se nessas coisas. E, de repente, aquilo que ele fora fazer sem vontade, de repente se tornava algo tão agradável que a oração acabava ficando para depois... e, mais ainda, quando ia rezar, a sua mente continuava naqueles problemas e ele não conseguia se recolher na contemplação.

Queridos amigos! Não é esse o retrato da nossa vida espiritual? Muitas vezes não rezamos ou rezamos mal não porque não acreditemos em Deus ou não saibamos a importância da oração, mas agimos como se tivéssemos um botão que nos fizesse mudar da terra ao céu de uma hora para outra. Esse botão não existe.

Tal como o atleta que corre precisa aquecer-se, caso contrário só terá câimbras, e mal sairá do lugar; aquele que reza precisa, antes de rezar, parar um pouco. Respirar fundo, buscar uma posição agradável (isso é um conselho de Santa Teresa de Ávila!) e só depois começar a oração. Essa foi a solução encontrada por S. Gregório: preparar-se para a oração!

Um conselho simples que dou é que antes de rezar consideremos três coisas: a Quem vou falar; o quê vou falar; por quem vou falar. 

A Quem vou falar? A Deus! Ao meu Senhor! Ao meu Pai! Aquele que me amou primeiro e que já me deu tudo em Seu Filho Jesus. Falarei a Ele no Espírito Santo que guia minhas palavras para que saiba rezar como convém. Falarei com Ele e juntamente comigo falarão também a Virgem Maria, S. José, meu Anjo da guarda. O Céu inteiro estará unido a mim nessa oração!

O quê vou falar? Existem vários tipos de oração: se vou pedir, considerar as minhas necessidades diante da grandeza de Deus, considerar que Ele me ama e que me dará o que for para a minha salvação... se vou pedir perdão, considerar sua misericórdia, o Sangue derramado de seu Filho pela remissão dos pecados... se vou agradecer, considerar que Deus por Si mesmo já é digno de toda gratidão, de todo o louvor, de toda a glória, buscarei reconhecer os benefícios que recebo de Suas mãos diariamente e agradecerei também pelas cruzes que, na sua bondade, me permite viver... 

Por quem vou falar? A oração de quem ama é uma oração cheia de nomes... Se vou interceder por alguém, lembrar-me bem dessas pessoas, ou das necessidades do mundo, confiá-la ao amor de Deus que tudo pode...

Esse é um tipo de "aquecimento" para a oração.

Queridos amigos, aqueles segundos antes da nossa oração têm uma grande influência no tempo que damos ao Senhor. Vamos então para o exercício da oração sem jamais deixar de aquecer-nos antes!

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