PORTADOR

A Santa Liturgia de hoje nos propõe a recordação de dois Santos que, de início, pode fazer com que o nosso coração se sinta dividido, pois ambos certamente nos são muito caros, mas se refletirmos um pouco, os celebraremos sob uma única invocação: portador de Cristo.
Esse é o significado do nome Cristóvão.
Cristóvão em grego pode ser entendido como aquele que leva o Cristo. Mas não um apenas "levar em si", um carregar, mas um "levar para", praticamente "um enviar" para alguém, um levar até alguém. Assim, aquele gigante que conduz o Divino Infante através de um rio, é em si mesmo, uma imagem da autêntica vida cristã: trazemos o Cristo sobre nós, atravessando as dificuldades do rio da vida, mas O trazemos não apenas em benefício próprio, senão que O trazemos para dar-Lhe aos demais.
Assim, o gigante Cristóvão o foi não apenas no corpo, mas na alma e no coração. Coração grande que vai além de si mesmo, de suas próprias necessidades, para socorrer os demais. Coração grande sem o qual não se segue autenticamente a Cristo. E alma grande que faz com que tendo os pés no chão, nossa alma já esteja no Senhor.
Nesse mesmo caminho encontramos o Apóstolo Santiago.
A tradição do caminho de Santiago de Compostela, recorda a todos que a vida cristã nesse mundo não é mais que uma travessia, como aquela de S. Cristóvão. Um caminho onde seremos levados a perceber a necessidade de abrir mão de tudo o que não é essencial, um caminho que somos chamados a percorrer cansados, mas sem desânimos (afinal o cansaço é uma realidade natural, advinda do esforço, enquanto que o desânimo muitas vezes é um estado de alma que precede qualquer desejo que tenhamos de crescer, o desânimo é o "cansaço de não fazer nada").
Mas a altíssima figura desse Apóstolo, irmão de. S. João, nos traz ainda um outro aspecto a considerar: a luta.
A luta é o local da vida cristã, mas muitos ainda não compreendemos que estamos na Igreja militante e vivem enganando-se como se já estivéssemos na glória, a luta nesse mundo é intrínseca ao seguimento de Cristo. Santiago tantas vezes é representado sobre um cavalo, de espada em punho e atacando os inimigos da fé cristã que tentavam (e agora o conseguem com mais sucesso) tomar os lugares onde a Cruz já fora fincada.
Nas lutas da chamada Reconquista, espanhóis e mesmo os mouros narravam ver um grande cavaleiro que combatia junto aos espanhóis, dando-lhes a vitória, mesmo que estivessem em minoria. Esse misterioso cavaleiro foi entendido como o próprio Santiago que vinha defender a fé naqueles locais que ele mesmo, séculos antes, havia plantado.
Mas foi fácil para Santiago plantar a fé?
Claro que não. E no meio das dificuldades da missão apostólica, sobre um pilar, apareceu-lhe a Santíssima Virgem, antes mesmo de sua Assunção. Foi a primeira aparição de Nossa Senhora, para confortar o Santo Apóstolo que estava cansado em sua missão.
Queridos amigos, peçamos ao Senhor, por mediação da Santíssima Virgem que nos ajude a sermos portadores e defensores de Cristo e de Seu Reino, e que, se as águas se agitarem demais, ou o cansaço nos atingir, seja a presença de Maria a nos confortar e ajudar a permanecermos na vontade de Deus.

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