MONTE

A Santa Invocação da Santíssima Virgem como Nosso Senhora do Carmo, traz subjacente, a referência a uma montanha, um monte, o Carmelo, ou Carmo. Já a tradição da Igreja refere-se à Maria mesma como fons, pons, mons. Isto é, fonte que Deus mesmo instituiu de todas as graças, ponte que nos salva dos mares agitados e nos une a Deus e monte de todas as graças e virtudes.

Subir o monte é parte integrante da espiritualidade carmelitana e sobre esse assunto gostaria de abordar dois aspectos: leveza e visão.

Aquele que se dispõe a subir uma montanha necessitado está de livrar-se de todos os pesos, carregará apenas o que for estritamente necessário, porque, quanto mais pesado, mais difícil será a caminhada. Na subida do monte que é a vida do cristão necessitamos livrar-nos dos pesos, o peso principal é o peso do pecado, mas há também uma série de coisas das quais podemos abrir mão sem dano de nossos deveres de estado, também delas, vez por outra, sob a guia de um diretor espiritual, precisamos privar-nos. Tal como o corpo do verdadeiro atleta pede exercício, a alma de quem busca a Deus pede a penitência para que seus sentidos não sejam um impedimento, mas um complemento, na subida do monte. Sem penitência não há vida espiritual. Sem penitência não há vida cristã.

E repito, penitência não é abrir mão dos pecados - o que é obrigação - mas privar-nos de coisas lícitas que não prejudiquem nossos deveres de estado. Por exemplo, um pai de família pode privar-se de uma bebida, mas não deve privar-se de um passeio que traga cultura e diversão aos filhos. 

Assim sob a guia de outra alma experimentada, como um personal trainer, nos dispomos a subir melhor o monte.

Mas também é necessário considerarmos a visão. 

Porque aquele que se dispõe a subir uma montanha é o primeiro que deixa de enxergar o seu topo. Ele caminha para algo que no momento não vê. Mas caminha certo de que existe o que busca. Em certo sentido aquele que sobe um monte caminha na esperança e na fé. Aqui, caros amigos, está um grande desafio de nossa vida: conhecermos o fim, mas não sabermos os meios. Conhecemos a finalidade de nossa vida, a razão para a qual fomos criados que é amar a Deus, mas como o amaremos nessa vida? Não sabemos. E isso pode nos assustar.

Não conhecer o caminho, pode dar medo. Para combater esse medo precisamos da fé, que é certeza de que o Senhor estará conosco em cada passo, particularmente nos mais difíceis.

Pela esperança, caminhamos sabendo que há um topo que naquele momento não enxergamos, e pela fé adentramos até uma mata espessa sabendo que há o Senhor caminhando à nossa frente, ao nosso lado, acima de nós, abaixo de nós e atrás de nós, como recordava uma antiga oração atribuída a S. Patrício.

Caros amigos, peçamos ao Senhor, no pequeno jejum que faremos hoje (lembra da festa) que saibamos caminhar com alegria, apesar das dificuldades do caminho.