LADO




Imagine-se numa guerra entre dois reinos.
De repente, um soldado, que você não sabe de que reino é, lhe pergunta: "De que lado você está?"
Qual seria a sua resposta?
Certamente você teria que escolher um dos dois reinos, um dos dois senhores, e afirmar sua posição.
Se você dissesse algo do tipo "paz e amor", o soldado entenderia que você está do lado do inimigo, porque, numa guerra, não existe uma terceira posição.
Agora que imaginamos essa cena, precisamos compreender que ela é real, que é a nossa vida.
O Espírito Santo diz através do Santo Jó que a vida do homem sobre a terra é uma guerra, uma luta. Muitas vezes entendemos isso no sentido de uma busca por sobrevivência unicamente no sentido material: trabalho, salário, coisas que aumentam o preço, doenças, remédios - que também aumentam de preço - fila para o ônibus, para o táxi, para o pão, para o médico...
Sim, a vida é uma luta. Mas há uma guerra, que abarca toda a nossa existência, e na qual precisamos decidir sob qual bandeira estamos: de Deus ou o do diabo.
Diante dessa determinada decisão, o diabo, disfarçando-se como lhe é peculiar, nos oferecerá uma terceira bandeira que seria descrita nesses termos: "De Deus. Mas não tanto."
E sob essa bandeira ficam tantos...
Queridos amigos, hoje celebramos a festa de S. Inácio.
Este santo compreendeu que a todo ser humano necessita escolher sob qual exército irá militar. Não pode haver um meio-termo que não seja ao mesmo tempo traição.
Deus nos quer por inteiros, o diabo contenta-se com uma aparente "metade", que no fundo é inteireza disfarçada. Por isso que o caminho de Deus nos parece sempre mais exigente, sempre mais difícil, do que o outro caminho que parece corresponder melhor ao que somos.
Inácio, ferido em batalha, em sua convalescença, decide alistar-se no exército de Deus. Se por um lado sabe que não será fácil, com santa audácia, afirma que os grandes santos não eram super-homens, mas pessoas feitas do mesmo barro que ele, com as mesmas fraquezas que ele. Se pode um S. Francisco ou um S. Domingos, por que não poderia também Inácio?
Queridos amigos, é tão verdade essa percepção de S. Inácio, que nós mesmos quando nos referimos a Igreja que está nesse mundo a chamamos de militante. Militante não é "passeante", mas "lutante", combatente.
Um fiel que não combata é porque já desertou.
Mas aquela bandeira bordada pelo demônio: "De Deus. Mas não tanto" oferece a comodidade de passar por esse mundo de férias, descansando, lutando para não lutar...
"De Deus. Mas não tanto"...
Não teremos nós também ficado sob essa bandeira, permitindo que o espírito do mundo com suas seduções e obras afogasse em nós nossa alma espiritual fazendo com que sobre ela dominasse nosso corpo mortal com todas as suas baixezas?
Pensamos ser de Deus, mas a cada dia mais nos afastamos d'Ele.
"De Deus. Mas não tanto"...
Sob essa bandeira se alistaram tantos cristãos, mesmo clérigos, que têm por lema não complicar a própria vida e nesse mesmo espírito raso, pelos exemplos e pela palavra, mergulham uma multidão de almas.
"De Deus. Mas não tanto"...
E permitimos o adultério, desculpamos as faltas de oração, não lutamos contra os inimigos da fé...
"De Deus. Mas não tanto"...
Rasguemos essa bandeira que pende talvez sob nossas cabeças. E busquemos abrigo sob aquela outra: "De Deus."
Não encontraremos muita gente sob essa bandeira.
Mas lá estarão um Francisco, um Domingos, um Inácio dando-nos a sua espada e dizendo-nos que eles puderam, podemos também nós.
Aux armes!


Comentários