JULGAMENTO

Há coisas que nos marcam.
Pessoalmente tenho marcada em mim a lembrança de um confessionário. Já usei como confessor e penitente vários confessionários, mas um que, concretamente nunca usei nem como um nem como outro, mas o vi servindo de guarda-mantimentos (sim, infelizmente) me marcou.
Aparentemente não tinha nada de mais: madeira, porta, genuflexório etc... mas na grade que fica na altura da face do penitente e dos ouvidos do confessor é que estava a diferença desse confessionário para os outros.
Ali estava escrito na madeira, em cada quadrante na cruz: morte, juízo, inferno, paraíso.
Não teria como ser mais direto.
Essas quatro realidades últimas do homem, por isso mesmo chamadas de novíssimos (últimos, em latim) eram ali recordadas ao penitente e ao confessor. Para que aquela confissão de modo imediato e também toda a vida do fiel, fossem pautadas nessa meditação.
De fato, diz o Espírito Santo que se lembramos constantemente de nossos novíssimos não pecaremos. Porque nada nos parecerá suficientemente maior que o fim que inexoravelmente chegará um dia para todos nós.
No Santo Evangelho de hoje, Nosso Senhor fala do dia do juízo em que os habitantes das cidades pecadoras de Nínive e Sodoma serão testemunhas da condenação daquela geração que não reconheceu o Senhor que vivia entre no meio deles.
O dia do juízo.
Cremos, por fé católica que todos nós (a exceção dos que estiverem vivos quando da volta do Senhor) passaremos por dois juízos: um particular e outro universal. O particular acontece imediatamente após a nossa morte, podendo ter três sentenças: ou o inferno, ou o purgatório, ou o paraíso. Muitos fiéis costumam dizer que ficariam contentes se fossem para o purgatório. Mas essa aparentemente devoção e preocupação com sua própria alma geralmente esconde a tibieza e a mesquinhez com que tratam ao Senhor.
Houve uma moça, que ao saber de que estava gravemente enferma tomou a seguinte resolução: pular o purgatório a la torera, ou seja como os famosos pulos dos toureiros que passavam por cima dos touros sem mesmo tocá-los, apenas com o impulso que tomavam.
Assim também deveríamos também nós desejar.
Aqueles que "se contentam" com o purgatório estão mais próximos do inferno do que imaginam, porque contentam-se em ficar (se ficam!) no limite entre o pecado mortal e venial deliberado, sem buscarem crescer a cada dia no amor a Deus e nas santas virtudes. Bem caberia a eles o que os antigos mestres diziam que "aluno de média é aluno medíocre"! No céu não entram medíocres.
Não sabemos quando acontecerão nenhum dos dois juízos, portanto necessitamos estar preparados a cada momento para o encontro com o Senhor, e só quem não O ama terá medo desse encontro. Aliás, com certa ironia, afirmava S. Agostinho estranhar que muitos que digam amar a Deus, tenham pavor de encontrar-se com Ele.
Queridos amigos, a la torera!
Que o Senhor nos dê essas santas ambições que ardiam no coração de tantas almas santas.

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