ABENÇOADO

Ler uma crônica é interessante. Traz-nos informações com objetividade.
Ler uma poesia é edificante. Traz real júbilo aos nossos corações.
S. Gregório, verdadeiramente Magno, reúne ambas as coisas nos seus "Diálogos", 4 livros que trazem uma conversa com um diácono, Pedro, sobre a santidade. E como a santidade não existe sozinha, mas em seres pessoais, ele apresenta o exemplo de vários santos que viveram na Itália. O segundo livro é dedicado a um único Santo: Bento.
E há expressões verdadeiramente magníficas que S. Gregório utiliza e que se tornaram clássicas ao referir-se ao Santo Patriarca.
Bento por graça e por nome: Essa é uma das primeiras que o Santo utiliza, servindo-se do próprio nome do Santo para falar de sua vida. Bento, Bendito, abençoado. A Bênção é propriamente obra de Deus, iniciativa d'Ele, graça d'Ele. Assim Gregório recorda que a santidade que brota dessa bênção é antes de tudo um dom de Deus que o Santo corresponderá com todas as fibras de seu ser. Bento por graça e por nome, ou seja bênção recebida de graça e correspondida com o máximo de amor.
Desejando agradar somente a Deus: Essa é a sua correspondência, a sua resposta à Bênção recebida. Bento deseja agradar somente a Deus, ainda que essa busca traga renúncias. Agradar a Deus mais do que aos homens, tal como os Apóstolos diante do Sinédrio, é, por assim dizer, um resumo de sua própria vida. Não faltaram na vida de S. Bento incompreensões e mesmo perseguições, todas elas advindas de outros monges ou mesmo de Sacerdotes, por elas passou o glorioso Patriarca, olhos fixos em Deus, o que fez com que Deus mesmo interviesse, como no caso do vinho envenenado pelos próprios monges ou a inveja daquele sacerdote que o obrigou a mudar de lugar.
Doutamente ignorante e sabiamente inculto: Diante das perversões do ambiente reinante, mesmo aquele do ensino, a sabedoria de Bento foi optar por sair. A sabedoria não serve apenas para convencer os outros, mas para reconhecer que às vezes certos ambientes ao invés de serem convertidos por nós, são mais capazes de nos perverter. Temos em nós uma chama que não podemos expor aos ventos, mas guardar e alimentar até que se torne uma fornalha. 
E assim segue o Papa, de forma belíssima a contar a vida do Santo. 
Mais pode a que mais amou: Pulando praticamente todo o livro, S. Gregório refere-se a S. Escolástica, irmã de S. Bento, que também abraçara a vida monástica. Ambos se encontraram pela última vez nas proximidades de Monte Cassino, chegando a noite Bento por amor à Regra quer voltar ao mosteiro. Escolástica quer permanecer com o irmão por amor ao próximo. Diante de seu pedido negado pelo irmão, a santa dirige-se a Deus e o céu arma-se em tremenda tempestade. "Eu te pedi, e não me ouviste. Pedi a Deus e Ele me atendeu. Vai agora, se podes!" São Bento aqui, como todos os santos, é chamado a aperfeiçoar o seu amor. Naquele momento mais valia atender o desejo sadio da irmã do que cumprir a Regra.
Todos nós nascemos bentos, abençoados por Deus, chamados à santidade. Mas a santidade é uma obra que dura a vida toda, sempre poderemos compreender mais o que significa realmente amar a Deus e ao próximo, e, já próximo do fim de sua vida ainda aprende as lições do amor que Deus lhe ensina.
Bento em certo sentido, "era mais santo" que sua irmã; mas naquele momento ela pode mais. Pelo simples fato de amar mais.
Queridos amigos, hoje celebramos o dia em que suas relíquias foram retiradas dos escombros de Monte Cassino e levadas para a França. Tal como os filhos de Israel ao saírem do Egito levaram os ossos de José, os filhos de Bento portaram consigo os seus ossos e os de sua irmã para um local seguro, a fim de que não fossem profanados nem esquecidos pelos invasores bárbaros. Depois parte dessas santas relíquias voltaram para Monte Cassino, que ainda seria destruído uma outra vez sendo bombardeado na Segunda Guerra Mundial, o que possibilitou, ao ser outra vez reconstruído que se encontrasse o local em que estavam as Santas Relíquias, hoje colocadas atrás do Altar Principal. 
Recorramos a intercessão do Pai dos Monges para que também nós saibamos entrar, como ordena Nosso Senhor, entrar na cela de nosso coração e ali dirigirmos ao Pai a oração que só Ele é capaz de ouvir, e ao mesmo tempo amemos o trabalho, como oposto do ócio, e trabalhemos constantemente para que não demos espaço aos maus pensamentos que precedem as más ações.
Ora et labora!


Comentários