RAZÃO

S. Tomás de Aquino
Na Epístola da Missa de hoje, o Apóstolo S. Pedro nos exorta a estarmos prontos para dar as razões da nossa esperança. O que isso significa?
As verdades da fé, não são verdades naturais; muito embora se possa até chegar ao conhecimento de Deus apenas pelo uso da razão, mas de forma imperfeita. Mas dizer que não naturais, não significa dizer que sejam contra a nossa natureza e que o ato de crer seja uma imposição violenta de uma Igreja "opressora" que deseja dominar o mundo com doutrinas e morais duvidosas.
Não.
Tudo o que cremos se insere numa ordem absolutamente lógica e perfeita, onde antes de uma premissa, vêm outra que a prepara e outra que é sua conseqüência. E o que sabemos, sabemos por revelação de Deus mesmo à sua Igreja que guarda e protege esse depósito da fé que conduz os fiéis ao longo dos séculos.
Assim cremos que existe um Deus, o que exclui a existência de outros uma vez que não dá para termos dois absolutos... cremos que esse Deus é Uno e Trino, tal como nos ensina Nosso Senhor nos Evangelhos. Cremos que Deus Uno e Trino criou todas as coisas, dentre as quais os seres humanos. Estes pecaram e se tornaram inimigo de Deus, mas Deus que é amor, se faz homem para redimir o homem decaído. Então funda uma sociedade de todos os que crêem chamada Igreja e dá a Ela sua Doutrina e seus Sacramentos etc etc.
Quando vemos assim, percebemos como a nossa fé não é um absurdo. Um aceitar sem raciocinar.
É verdade que muitas verdades da fé superam o nosso entendimento, mas não é porque seja inalcançável  o cume de uma montanha que eu não possa conhecer um pouco de sua base... E se eu não posso tocar o cume, não significa que ele não existe...
Mas muitos católicos têm dificuldade em cumprir esse mandato de S. Pedro e eu penso que isso se deve a duas razões:
1. Não conseguimos dar as razões de nossa esperança, porque não as conhecemos. Temos preguiça de estudar a nossa fé, ler o catecismo, fazer bons cursos, mesmo que pela internet. Tudo que é bom nos custa, mas o não fazer gera um castigo imediato. Trabalhar custa, mas ficar desempregado é pior; estudar custa, mas tirar zero é pior; arrumar a casa custa, mas deixá-la bagunçada dá vergonha... Mas enquanto a fé... vamos deixando pra depois. Ou damos respostas como: "Eu sei como é, mas não sei explicar..."
2. A outra dificuldade é que não lemos a frase toda de S. Pedro: "estejam prontos a dar a razão (...) a quem pedir". Ou seja, se a pessoa não está disposta ao diálogo sincero, não adianta querer dar a razão. Alguém nos diz: "Vocês adoram os Santos!". Mal começamos a explicar, a pessoa nos interrompe e diz: "Padre tinha que casar!". Então partimos para esse ponto. Não chegamos nem na metade dessa razão e a pessoa diz "O papa tem uma privada de ouro!" Nessa hora a melhor coisa a fazer talvez seja dizer que nós já usamos a privada de ouro do Papa (que não existe) e não tentar explicar a quem não quer ouvir...
Por fim queridos amigos, gostaria de me voltar à última frase do ponto 1. Não existe alguém que realmente conheça uma coisa e não seja capaz de explicá-la. O grande médico explica a doença mais complicada para um colega e para uma velhinha assustada à sua frente. Usa outras palavras, dá exemplos, mas explica a qualquer um, porque conhece o que fala. O grande S. Tomás, luz dos teólogos, professor de Universidades, aproveitava a quaresma para explicar o Credo para camponeses... e eles entendiam. Quem sabe, sabe.
Para que terminemos com um sorriso, vou contar um causo acontecido comigo.
Dava aula de Religião para uma classe de terceiro ano do segundo grau (não sei o que seria isso hoje), e uma moça agia tal como descrevi no ponto 2. Pergunta em cima de pergunta, sem deixar responder. Até que, interrompendo uma resposta que estava tentando dar, me perguntou: "Por que que padre não casa?" Como meu temperamento não é muito fácil, acabei respondendo: "Você, por acaso, quer casar-se comigo?" E ela: "Não!". "Então me deixe em paz", respondi. E a turma riu da impertinência da colega revoltada.



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