GRAVADOR


"Não temos como saber exatamente o que Jesus falou, porque na época d'Ele não havia gravador..."
A frase acima foi dita por um sacerdote de grande posição na Igreja, prefiro não comentar exatamente de quem se trata, até porque diz a Imitação de Cristo: "não queira saber quem disse, mas o que foi dito". 
Bem, vamos lá.
Toda mentira "eficaz" se baseia numa verdade. Ou seja, uma mentira sem alguma verdade gera a cômico, o engraçado. E realmente há uma verdade na frase acima: no tempo de Jesus não tinha gravador. E é a única verdade.
Mas o Evangelho não se propõe a trazer datilografadas as palavras de Nosso Senhor, mas de pôr por escrito o que o Espírito Santo inspirasse aos Santos Evangelistas. É o que Jesus diz no Evangelho de hoje: será o Espírito Santo a recordar as Palavras de Jesus, e o recorda de um modo particular a cada Evangelista, de acordo com a sua capacidade, sem que com isso houvesse contradições reais.
Esse pensamento surge pelo fim do século XIX com o pretexto de se criar um hiato entre um Jesus histórico e um Cristo da fé. Ou seja, uma coisa é o Jesus real que viveu etc... E outra é a reflexão que "a comunidade pós-pascal" fez acerca da "mensagem" de Jesus. E então passa-se ao que seriam realmente as palavras ditas por Jesus e o que se teria posto em sua boca num reflexo de um tempo, de uma cultura, de costumes transitórios, a tal ponto que hoje precisariam ser revistos para adequar a "mensagem" de Jesus às nossas "comunidades".
Queridos amigos, certamente já ouvimos muitas vezes as palavras que acima pus entre aspas e que marcam vários discursos na Igreja. Elas são danosas. E muito danosas. 
Porque acaba por colocar para fora a assistência do Espírito Santo aos Evangelistas e aos Escritores Sagrados de modo geral. 
Esse é um modo de manifestar-se do modernismo, que fora da Igreja pode parecer um nome até simpático, mas que nela representa a síntese de todas as heresias, como ensinou S. Pio X. O modernismo não é uma heresia concreta, mas reúne todas as heresias, antigas e novas, reduzindo à Igreja a apenas um grupo de pessoas que buscam um mundo melhor. 
Queridos amigos, realmente buscamos um mundo melhor, que se chama céu. E à medida em que buscamos o céu, realmente tornamos esse mundo melhor. O modernismo destrói toda transcendência que possa haver na Igreja, reduzindo tudo a uma linha apenas horizontal. Desse modo quem é o Cristo? Um profeta contra a opressão. O que são os sacramentos? Momentos de partilha. Quem são os Santos? As pessoas engajadas na luta...
Esse pensamento se introduziu de um modo ora sutil, ora violento em muitas paróquias e mesmo em dioceses inteiras. Nós precisamos estar atentos!
Nada na Igreja se resume a esse mundo, nada é puramente natural.
As Igrejas góticas são famosas por sua arquitetura com várias pontas sempre apontando para o céu. Essa é a missão da Igreja e de cada fiel: apontar o céu.
Mas nos dirão que o céu é para outra vida, que precisamos nos engajar etc etc. Não! 
Se o céu é para outra vida, ele já começa a ser vivido aqui através do amor a Deus e ao próximo.
Peçamos ao Senhor que creiamos realmente no céu. Infelizmente hoje gerações de católicos se esqueceram do céu. Sejamos como aquelas catedrais góticas, que no meio das cidades, ou seja no meio desse mundo, apontam para algo mais elevado que o nosso coração deseja, às vezes sem o saber.

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