CÉU

A morte do justo
A morte do ímpio
E ainda achamos estranho que se fale em morte.
Diariamente ouvimos falar de milhares de mortes, mas preferimos fazer de conta que não é com a gente. As milhares de morte noticiadas todos os dias na TV nos trazem um breve lamento, um pouco de medo, talvez, mas logo em seguida buscamos desconversar com alguma série, filme, jogo, uma nova receita de brigadeiro ou qualquer outra coisa que possamos inventar para tirar essa ideia de nossa mente.
Não seria saudável que iniciássemos agora uma contagem regressiva como se fôssemos foguetes a serem lançados. Mas também não faz bem viver como se jamais fôssemos morrer.
Os materialistas evitam pensar na morte e a temem por ser, em seu entendimento, a sua total destruição. E os cristãos, muitas vezes evitam pensar na morte, porque ela reclama de nós uma mudança de vida que nós até desejamos, mas não exatamente nesse minuto.
Só que tem ficado difícil para nós evitar esse assunto, porque a sentimos rondando e às vezes tocando pessoas próximas de nós em vários níveis de convivência.
Nesses dias, tenho acompanhado pessoas queridas que perderam alguns familiares, seja pela atual peste, seja por outras razões como foi o caso, por exemplo de meu avô.
A minha idade e debilidades psíquicas me permitem contar várias vezes a mesma história, contando com a indulgência dos meu ouvintes ou leitores. Já lhes falei da "Praça do Alívio". Em alguns lugares da Espanha, bem antigamente, o enterro era uma cerimônia muito íntima, extremamente familiar. Havia então, numa cidade, uma praça, próxima do cemitério, onde, por costume, ficavam os que estavam acompanhando o enterro, e seguiam só os mais próximos. A praça chamava-se "Praça do Alívio". 
Só que, de repente, para muitos de nós, essa praça não existe mais, o que nos faz a, mais de uma vez, ter que seguir o cortejo até o fim e, como cristãos, o que se espera de nós?
Em primeiro lugar que tenhamos dado ao recém-falecido, todos os meios espirituais para uma boa morte: confissão, extrema-unção e viático. Que lhe tenhamos proporcionado, em seus últimos minutos, a oração, especialmente o rosário, a leitura do Santo Evangelho, dos Salmos de confiança. Se nada disso nos for possível, por causa de decisões médicas, façamos mesmo à distância, confiados na graça de Nosso Senhor e de Nossa Senhora.
Que tratemos com reverência aquele corpo que foi templo do Espírito Santo e evitemos posturas comuns a quem não tem fé. Que estejamos serenos e confiantes que o corpo naquele momento lançado à terra de onde veio, ressurgirá no último dia.
Que oremos e façamos orar pela alma daquele defunto, máxime o Santo Sacrifício da Missa. Não é apenas uma questão de "botar o nome", mas de pedir pessoalmente ao sacerdote que como tesoureiro dos tesouros do Sacrifício de Cristo, os aplique àquela alma em especial.
Devemos tomar muito cuidado, porque poderemos instintivamente pedir a Deus apenas por nós, por quem ficou, e esquecemos que aquele que partiu depende na grande maioria das vezes totalmente da nossa oração, uma vez que nada mais pode para si.
Pensar na nossa morte.
Não desejá-la, para irmos também para junto daquele que partiu, num gesto mais de desespero do que de serenidade. Mas considerarmos que também nós um dia iremos morrer; e como está a nossa preparação para esse derradeiro momento?
Na verdade, não temos metamorfoses mágicas e a nossa vida é, em última instância, uma preparação para a morte. O que dizemos, o que fazemos, as orações que rezamos, as conversas que temos, as diversões que apreciamos, tudo deve ter em vista a efemeridade do que é da terra e a eternidade que é do céu.
É esse o sentido cristão do "Carpe diem", expressão que ficou famosa naquele filme "A sociedade dos poetas mortos". "Carpe diem" quer significar: "aproveite o dia". Não um aproveitar malandro e boêmio, mas um aproveitar cristão. Dizer que amamos às pessoas que amamos, consertar os erros grandes ou pequenos que tenhamos cometido, buscar a reconciliação, defender a verdade, combater os vícios, aprendermos a arte da oração, crescer em devoção à Maria Santíssima que, segundo S. Luís de Montfort, é sinal inequívoco de predestinação à Salvação.
Esse tempo de confinamento, corre o risco de ser um tempo em que oscilamos entre o não fazer nada, e o não fazer coisa alguma. Tempo em que criamos uma nova trindade que rege a nossa vida: TV, Celular e Cozinha...
Busquemos um tempo para rezar pelos mortos, os nossos e todos. E cuidemos da nossa salvação e daqueles que amamos.
No mesmo dia que iniciei o meu trabalho num leprosário estava-se concluindo a Capela Mortuária. O frade responsável pela comunidade fez uma piadinha, perguntando quem a gostaria de "inaugurar"... Um tempo depois, passeando por perto, percebi a frase que tinham colocado numa placa ali: Mortuis morituri que na concisão do latim significa: "Os que vão morrer oferecem aos mortos".
Queridos amigos, até pensei em pôr, mas não encontrei e talvez chocasse alguns de nós, uma figuras antigas que mostravam ou um rapaz ou uma moça, em pleno viço da idade, cuidando de si mesmos diante de um espelho, mas o que espelho refletia era... um esqueleto. Eu sei que pode parecer meio macabro. Mas o que fazemos muitas vezes é insano!
Cuidamos e nos preocupamos e nos sobrecarregamos com o que passa e esquecemos da alma imortal que Deus mesmo colocou em nós! 
Pais, não esqueçam que seus filhos têm alma e que sobre vocês há uma grande responsabilidade sobre o destino delas. 
Filhos, seus pais não foram confirmados em graça; eles também cometem pecados: corrijam-os com respeito, deferência e verdade.
Esposos, quem dera que à medida em que as vossas esposas são marcadas pelos anos, vocês ajudem o Espírito Santo a marcar as suas almas.
Esposas, pior do que as ofensas cometidas contra vocês, são as ofensas que seus maridos cometem contra Deus (nas quais estão inclusas aquelas)! Não descuidem que seus maridos amem a Deus sobre todas as coisas, preocupem-se com isso! Exijam isso!
Fiéis, vocês têm o direito de terem Sacerdotes Santos! Ajudem seus padres a serem de acordo com o Coração de Jesus, e não carniceiros da Eucaristia!
Padres, Deus lhes pedirá conta de cada silêncio que vocês fizeram sobre a impureza, a imodéstia no vestir, a imoralidade dos costumes! O Senhor os pôs como cães que devem ladrar! Nada mais inútil que um cão mudo!
Quando Lúcia perguntou à Virgem de onde Ela era, Nossa Senhora respondeu simplesmente: "Eu sou do Céu!" Que fascínio exerceu sobre aquelas crianças essa simples frase: "Eu sou do Céu"... E logo começaram a perguntar: "E eu vou?" "E a Jacinta?" "E o Francisco?" E aquela amiga que morreu já está no céu?"... etc etc 
Que o céu desperte em nós esse mesmo enlevo que causou nos Santos Pastorinhos de Fátima.



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