JEITINHO

É inegável o fascínio que S. Jorge exerce sobre o povo. Não só os católicos, mas também os anglicanos, os ortodoxos, dentre outras religiões a ele recorrem como glorioso patrono e protetor em todas as necessidades.
Talvez parte desse fascínio se deva a sua própria representação iconográfica, o cavaleiro invencível, o belíssimo ginete, o dragão derrotado... cada elemento já proporciona que a imagem de S. Jorge seja uma obra de arte. Mas, penso que exatamente a vitória que a imagem representa faz aumentar a confiança do povo. Muitos santos são representados em seu martírio na perspectiva humana onde sobressalta o sofrimento, mas S. Jorge simbolicamente mostra esse martírio do ponto de vista de Deus, ou seja, a vitória.
Mas o que sabemos realmente sobre S. Jorge.
A palavra lenda, vem do latim, legenda, ou seja "aquilo que se deve ler", portanto quando nos referimos às "lendas" de S. Jorge, não se está absolutamente apresentando-o como um personagem "legendário" no sentido que atualmente damos a esta palavra, mas nas várias formas em que se quis contar a vida desse santo, onde certamente elementos mais históricos se misturam com menos históricos.
De modo que, o que sabemos com mais precisão sobre S. Jorge é que nasceu pelo final do século III e foi martirizado no início do século IV. A maior prova de sua existência é exatamente o seu túmulo em Israel.
Considerando a época em que o Santo viveu, e admitindo que fosse um soldado romano, recordamos que viveu sob os períodos mais cruéis da perseguição contra a Igreja pelo Império Romano. Uma perseguição que, embora chegasse a exceder os limites de toda crueldade, se dava de uma forma extremamente simples. O denunciado como cristão era levado a um templo pagão e, na assistência de uma espécie de notário, deveria queimar um punhado de incenso diante da estátua de um deus; feito isso o notário entregava um libelo, um documento, dizendo que fulano queimou incenso diante de tal deus.
Ora, pra tudo sempre há um jeito... um jeitinho, costumamos dizer.
O que alguns cristãos encontraram como solução diante dessa situação:
1. Subornar o notário e receber o libelo sem queimar o incenso.
2. Queimar o incenso, mas sem ter a intenção de oferecê-lo ao deus pagão.
3. Queimar o incenso diante do Deus pagão, renegando a fé cristã.
4. Sofrer o martírio.
De modo que podemos distinguir três jeitinhos e um jeito.
S. Jorge optou pelo jeito. O martírio.
Numa de suas lendas, ele teria dito ao Imperador que se era só isso que ele devia fazer (queimar incenso) o faria imediatamente, mas queria que muitos vissem o seu ato.
Grande multidão se reúne num templo, o carvão está fumegante, S. Jorge se ajoelha próximo à imagem do deus pagão.
De joelhos, S. Jorge se dirige a Nosso Senhor Jesus Cristo, promete-lhe fidelidade até o fim e pede que mostre aquele povo que nada são os deuses pagãos. Imediatamente a estátua se esfacela, o templo começa a desabar e o povo sai correndo vendo que, de fato, o Deus de Jorge era o verdadeiro Deus.
Esse fato foi tão eloquente que a própria mulher do imperador se converte ao cristianismo, sendo suspensa pelos cabelos e depois degolada, recebendo o batismo em seu próprio sangue.
Por fim, o ínclito mártir é degolado.
Queridos amigos, cuidado com os jeitinhos.
Os jeitinhos destroem os santos. Se S. Jorge tivesse dado um jeitinho, seria apenas um Jorge medroso e fujão que amou mais a própria vida do que Cristo, autor da vida.
Peçamos ao Senhor que sejamos bons brasileiros, mas sem jeitinhos, para sermos autênticos, verdadeiros e leais a Nosso Senhor.

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