CATARINA

Como vocês chamariam uma mulher que desse ao Papa o título de Doce Cristo na Terra, e que fosse capaz de beijar o chão por onde passasse o Papa?
E como vocês chamariam uma mulher que se opõe frontalmente ao Papa, dizendo-lhe que agisse como homem e não como um maricas?
Bem, o nome mais adequado para essa mulher é Catarina de Sena.
Para compreender bem a teologia dessa mulher é necessário ter em conta duas realidades que às vezes se confundem: a instituição e a pessoa. 
É mais ou menos como a voz e a Palavra, no caso de João Batista e Nosso Senhor.
Nosso Senhor é a Palavra eterna, João era a voz que anunciava essa Palavra. Se, por acaso, João dissesse a Herodes: "Olha, pode ficar com Herodíades, desde que você seja fiel a ela, não importa que seja mulher de teu irmão..." João deixaria de ser imediatamente a voz de Deus para se tornar um grunhido do diabo.
Ou seja, João é profeta, mas ele não é a profecia. Se dissesse uma palavra falsa, não deixaria de ser profeta, mas sua palavra não teria valor e sua pessoa se tornaria passível de correção.
Bem, usei o exemplo daquele que Jesus chama de: "o maior dentre os nascidos de mulher", que sempre lhe foi fiel, para compreendermos a maior grandeza que pode ser posta sobre os ombros de um homem: o papado.
O papado é uma instituição divina, desejada por Nosso Senhor e fundada sobre o Apóstolo S. Pedro. O papado é por natureza santo e perfeito, mas isso não implica que o Papa o seja. Como S. Pedro mesmo, ao longo de sua vida, necessitou de conversão e correções.
Assim é toda a hierarquia da Igreja. O Diaconado, o Sacerdócio e o Episcopado, não foram instrumentos que a Igreja assumiu quando "encontrou-se" com a cultura greco-romana e os criou como forma de controle social. São desejados por Nosso Senhor mesmo que os instituiu numa unidade sacramental de modo que cada um possa agir, dentro de certos limites, em nome e na pessoa de Cristo mesmo.
Isso reconhecia e venerava a nossa Santa ,que literalmente se punha beijar o chão por onde passasse um sacerdote, mas que não temeria chamar os que viviam em pecado sem emendar-se de "demônios encarnados".
Santa Catarina nunca duvidou da Santidade da Igreja, exatamente por isso, lutou violentamente para que a hierarquia fosse um reflexo dessa mesma santidade. 
Mas quem era essa mulher?
Talvez fosse uma poderosa abadessa, proprietária de muitas terras e influente, de uma cultura invejável e de uma idade respeitosa.
Como acho divertido ouvir os jovens de hoje: "Só que não".
Na verdade, ela não tinha muito mais que vinte anos quando isso tudo aconteceu. Era leiga, terciária dominicana, seu "convento" era o seu quarto; foi analfabeta a maior parte de sua vida, tendo que ditar as cartas que enviava ao Papa, aos príncipes e aos cardeais...
Mas era a força da santidade de sua vida, os dons místicos com que foi enriquecida pelo Senhor e a sadia compreensão sobre a Igreja que lhe deram essa altura moral capaz de pôr fim ao cisma de Avinhão, quando a Igreja estava esfacelada entre papas verdadeiros e falsos...
Mas voltemos à compreensão de S. Catarina sobre a Igreja.
Na maior parte das vezes nós confundimos a hierarquia com os hierarcas, ou seja, confundimos o episcopado com aquele bispo, o sacerdócio com aquele sacerdote. O risco disso está quando a pessoa que ocupa a hierarquia é inimiga da Igreja. E isso acontece.
Acontece quando a pessoa que ocupa a hierarquia esquece que está ali para conservar a fé, para dar a vida pelo rebanho, para protegê-los de todos os males, especialmente os espirituais.
A Igreja hoje sofre lamentavelmente porque muitos dos que a conduzem se fizeram cercar por grupo de pessoas que julgam que discordar da pessoa é discordar da hierarquia. Esquecem que a Igreja tem uma história, e mais, uma doutrina cuja função da hierarquia é simplesmente conservar o que recebeu.
Muitos conselhos oficiais de bispos, padres e leigos se tornaram apenas um clube de bajuladores tentando adivinhar as idéias dos mais preeminentes para segui-las e executá-las como mandamentos divinos.
É mais fácil a essas pessoas seguir uma pessoa que a Igreja. Gerando uma sensação de insegurança entre os fiéis mais simples, tratados como ignorantes sem importância, ou como adversários a serem caçados com toda a força por reafirmarem hoje as mesmas verdades de fé que afirmou S. Catarina ou S. João Paulo II.
Caros amigos, há acima de todos uma Igreja, Esposa de Cristo, que Catarina defendeu com todas as fibras de sua alma, pela qual consumiu sua breve vida de apenas 33 anos. Uma Igreja que cabe a nós defender, sempre em unidade com a hierarquia, quando aqueles que dela fazem parte são fiéis ao dom recebido.

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