AS PESSOAS DA SEMANA SANTA VIII


DOMINGO: CRISTO
“Cristo nos dias de sua vida mortal dirigiu preces com forte e lágrimas aquele que o podia salvar da morte e foi atendido...”
Lemos esse texto na Carta aos Hebreus e se o considerarmos literalmente parece que não corresponde à realidade. Esse texto nos transporta para o Getsmani, ali vemos o Cristo prostrado por terra, com lágrimas e suores de sangue pedindo ao Pai que o cálice pudesse ir adiante sem que ele o bebesse.
Onde estaria esse atendimento? Onde o Pai ouviu essa oração?
Pouco antes de ressuscitar Lázaro, Nosso Senhor se dirige ao Pai dizendo: “Eu sei que sempre me ouves...”
Sempre.
Sempre não é quase sempre.
Nem tampouco a imensa maioria das vezes.
Sempre é sempre.
Então seria a oração de Cristo no Horto a exceção? Uma vez que não foi salvo da morte... essa súplica o Pai não ouviu...
Voltemos atrás.
Qual foi a oração de Jesus no Horto?
Ela não se resumiu ao pedido sobre o cálice, mas a que se cumprisse a vontade do Pai.
Mas a vontade de Deus não se cumpre sempre?
Sim.
Mas quando essa vontade se cumpre em nossa vontade?
Bem...
Jesus no Horto é atendido não porque o cálice não veio. Mas porque Ele o bebeu e com sede.
Há uma história rabínica que narra um diálogo entre Abraão e Isaac já no topo da montanha. Nesse momento Isaac já sabia que era ele o sacrifício e, aceitando isso, pede ao pai que o amarre forte, porque o golpe deveria ser fatal, e ele tinha medo de que, num instinto de defesa se esquivasse ao golpe e o sacrifício ficasse imperfeito e assim ele e Abraão teriam o seu sacrifício rechaçado por Deus.
É isso que Cristo pede.
Ele não pede tanto para não morrer, mas para morrer com vontade. Para que fosse o “servo que não desviou o rosto de bofetões e cusparadas”, que fosse “ovelha muda ante os tosquiadores”.
E sendo esse o pedido, foi essa a graça.
Morrer livremente. Não ser assassinado, mas dar a vida.
A oração que agrada a Deus é aquela sincera, mas que termine com um “Amém” que não seja: “dedos cruzados, vai dar certo!”, mas sim: “em todo o caso, o Senhor sabe mais”.
O Cardeal Pell acabou de sair de 13 meses de cárcere. Ele tinha sido acusado de ter abusado de alguns adolescentes há décadas. Sem provas, sem nada que comprovasse a autoria do crime. Mas foi preso.
Saiu esses dias depois de um apelo à Suprema Corte da Austrália, absolvido por unanimidade por falta de provas. Escrevendo um pouco sobre essa experiência o Cardeal disse: “Eu sabia que Deus estava comigo, mas sabia o que Ele estava fazendo...”
Essa frase, meus amigos, resume o sentimento de muitas almas que são provadas por Deus. E que ficam naturalmente confundidas por encontrarem tanto sofrimento exatamente quando querem estar unidas a Deus.
Assim, Nosso Senhor, apresenta à humanidade a Bondade de um Deus que também fere, cuidando da ferida.
Assim Ele foi atendido, e a libertação da morte não foi o não passar pela morte, mas o vencer a morte.
Analisando do nosso ponto de vista, o pedido de Cristo seria não morrer. É o que nós pediríamos. Mas Ele pediu para vencer a morte, por isso foi atendido. Vencer a morte não era não morrer, mas ressuscitar.
Se Cristo não morresse, não teria o duelo que a liturgia de hoje canta:
"Mors et vita duelo conflixere mirando, dux vitae mortuus regnat vivus
“A morte e a vida travaram um combate admirável, o Condutor dos mortos à vida reina vivo.”
Ele reina vivo! Sim travou duro duelo, mas está vivo. Pareceu que a morte vencera, mas é Ele quem reina vivo.
Nós também somos desafiados pela morte. E nem sempre sairemos vencedores. Mas sempre sairemos com Jesus.
Queridos amigos, talvez pior do que não crer em Deus é não crer plenamente em sua amor, pior do que não nos entregarmos à oração é querer ensinar a Deus como agir. Se você, exatamente como eu, se encontra nesses casos, a solução não será o não crer ou o não orar, mas o crer e orar como Jesus.
E dar aquele Amém, não de dedos cruzados, mas de braços abertos, dizendo: “Não o que eu quero, mas o que Tu queres. Porque amas-me mais do que eu próprio seria capaz de me amar e se o peso se fizer sentir, estarás comigo.”

Comentários