AS PESSOAS DA SEMANA SANTA VII



SÁBADO: MARIA
“Ave, Maris Stella!” Ave, Estrela do Mar!
Assim se expressou um Santo Bispo do século VI ao saudar a Virgem Maria num hino que compusera.
Estrela do Mar.
S. Bernardo dirá que esse seria o significado do próprio nome “Maria”, e que por isso todos os fiéis “se quiserem alcançar o porto” devem deixar-se guiar por Ela.
Essa invocação foi muito cara aos navegantes e o é ainda hoje, bem como aos pescadores e a todos aqueles que provam em sua própria carne as incertezas do mar, ora calmo, ora revolto, ora sereno, ora tempestuoso, ora de visão claríssima, ora obnubilado...
Mas, caros amigos, na verdade a vida é um mar.
Imprevisível, surpreendente e até mesmo... temível.
E somente uma criatura foi capaz de ser como uma estrela que elevada acima do mar, não  só se mantém estável, como é capaz de iluminar e conduzir os que se achegassem a Ela.
E o nome da Virgem era Maria.
Afogam-se mais pessoas no mar da vida do que nos sete mares deste nosso mundo.
Afogam-se porque acreditam demais em si mesmas e supõem-se capazes de sozinhos enfrentar todas as procelas, ou afogam-se por serem tão medrosos que na primeira onda já se deixam levar sem resistir.
Tanto para um como para o outro, o Senhor concedeu essa Estrela, de modo que basta manter os olhos nela para que nela encontremos a verdadeira segurança (jamais em nós mesmos) e percamos todo o medo (que não há porque ter, uma vez que essa Estrela nos ampara).
E o nome da Virgem era Maria.
Ela é Maris Stella, Estrela do Mar, porque na noite mais escura da humanidade, quando até o sol negou-se a iluminar a terra porque Deus morria pelas mãos dos homens, Ela era luz.
Quando a luz da fé apagou-se nos discípulos que fugiram, e nos demais que não acreditavam, Ela continuou acesa e brilhando sobre a face da terra, Maris Stella.
Assim se podia dividir a Igreja na Sexta-feira Santa e no Sábado Santo: os que fugiram, os que não acreditavam e Maria.
Os que fugiram eram a grande maioria, os Apóstolos, todos os que foram curados pelo Senhor, aqueles que o buscavam para alívio dos corpos e das almas, todos fugiram ou preferiram seguir a maioria, que  é a tentação que a Igreja enfrentará até que o Senhor volte.
E os que não acreditavam. Aqueles que foram até a cruz, mas a consideraram um ponto final. Como era o caso das Santas Mulheres e de S. João Evangelista. A sua força interior foi capaz de levá-los até o que consideravam os últimos instantes do Senhor, sem ter força interior para crer além daquele sepulcro selado por uma pedra pesada.
Maria é a Estrela que brilha discreta no céu escuro da noite humana. Sabe que não adiantará fazer nem dizer muito. Cala, guarda no coração, e brilha.
E brilha porque há dentro de si um fogo abrasador, o fogo da fé incondicional, da esperança plena e da caridade perfeita.
Busca a Igreja fugitiva, consola a Igreja que não acredita, se faz presença.
É Mãe, não pode esquivar-se.
É Estrela precisa conduzir.
Ali, não sente a necessidade de dizer muito, mas de ser presença. De cuidar especialmente de Pedro que ainda chorava suas negações.
Ela está ali. O seu modo de ser luz naquele momento, talvez tenha sido pôr um avental e preparar algo para que comessem. E enquanto via Madalena misturar suas lágrimas aos óleos com os quais pensava ungir o corpo do Senhor, também misturava as suas, discretas, mas não por isso menos sofridas, ao alimento que preparava para aquela Igreja esfacelada, mas Igreja, que seu Filho a fizera dar à luz com dores no dia anterior.
Stella Maris.
Chega à noite. Os Apóstolos tentam dormir. Madalena e as outras vigiam, para que acabado o sábado, pudessem ir de madrugada ao túmulo.
Ela espera.
E a esperança não decepciona.
Mãe!
Era aquela voz. Aquele olhar.
Filho!
Dilectus sum mihi, et ego illi!
Eu sou do meu amado e o meu amado é meu, exclamou Maria. E o Ressuscitado sorriu-lhe: Ecce nova facio omnia!
Eu faço novas todas as coisas!
Maria experimenta a alegria de saber que continuará sendo Estrela, mas que o Sol voltou a brilhar e não se extinguirá jamais.

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