MISTAGOGIA

Mistagogia...
Já ouviu essa palavra?
Talvez sim, talvez não.
Mistagogia poderia ser compreendido como o sentido do mistério.
Mas mistério aqui não é coisa secreta, escondida, ao contrário, é um sinal visível. Por isso, a palavra grega mysterion traduziu-se no latim como sacramentum...
S. Cirilo de Jerusalém, cuja memória hoje celebramos, ficou famoso por suas catequeses mistagógicas, ou seja, como Bispo ele compreendeu que uma de suas missões mais importantes era ensinar, e que o melhor modo de ensinar a fé seria ter como pano de fundo, os sinais sacramentais.
Vamos agora dar a palavra ao nosso Santo: 
"Se ele (Cristo) em pessoa declarou e disse do pão: Isto é o meu corpo, quem se atreveria a duvidar doravante? E quando ele afirma categoricamente e diz: Isto é o meu sangue, quem duvidaria dizendo não ser seu sangue? Outrora, em Caná da Galiléia, por própria autoridade, transformou a água em vinho. Não será digno de fé quando transforma o vinho em sangue? Convidado às bodas corporais, realizou, este milagre maravilhoso. Aos companheiros do esposo não se concederá, com muito mais razão, a alegria de desfrutar do seu corpo e sangue?
Portanto, com toda certeza recebemo-los como corpo e sangue de Cristo. Em forma de pão te é dado o corpo, e em forma de vinho o sangue, para que te tornes, tomando o corpo e o sangue de Cristo, concorpóreo e consangüíneo com Cristo. Assim nos tornamos portadores de Cristo (cristóforos), sendo nossos membros penetrados por seu corpo e sangue. Desse modo, como diz o bem-aventurado Pedro, «tornamo-nos partícipes da natureza divina»."
Viu só?
A sua familiaridade com a Sagrada Escritura, com a liturgia, com os dogmas católicos?
A boca fala do que está cheio o coração.
Hoje (sempre), em tempos de crise de fé, a mistagogia será sempre um ótimo recurso para reacender a chama da fé em nós e nos outros.
Mas compreendemos os sinais da liturgia?
Quantas vezes nos tornamos apenas seguidores de uma coisa que não compreendemos (nem queremos compreender) imitando o que os outros dizem e fazem sem perceber seu real sentido.
Não é que eu seja muito apegado à Missa em latim (tá ok, eu sou, mas não é por isso) mas eu sinceramente questiono até que ponto valeu traduzir os textos da missa. Até que ponto o povo fiel compreende o real sentido do que é dito. Não é só entender as palavras, mas concatená-las e chegar à riqueza da fé que elas simbolizam. Isso ainda não aconteceu. 
Neste tempo de Quaresma, termino com uma das grandes riquezas do novo Missal que é um dos prefácios da quaresma, que talvez ouvimos um monte de vezes, mas não compreendemos nenhuma vez: 
"Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação louvar-vos, Pai santo, rico em misericórdia, e bendizer vosso nome, enquanto caminhamos para a Páscoa, seguindo as pegadas de Jesus Cristo, Vosso Filho e Senhor Nosso, Mestre e modelo da humanidade, reconciliada e pacificada no amor. Vós reabris para a Igreja, durante esta Quaresma, a estrada do Êxodo, para que ela, aos pés da montanha sagrada, humildemente tome consciência de sua vocação de povo da aliança. E, celebrando vossos louvores, escute vossa Palavra e experimente os vossos prodígios. Por isso, olhando com alegria esses sinais de salvação, unidos aos anjos e aos santos, entoamos o vosso louvor, cantando (dizendo) a uma só voz..."

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