CORONAVIRUS

Não quero fazer piada, nem de longe teria essa intenção. Mas gostaria de começar a nossa reflexão com uma frase do Chacrinha: "Eu não vim para explicar, vim para confundir...". Nesse sentido eu digo que não vim explicar, eu não tenho soluções, mas gostaria de trazer ao menos a contribuição de uma reflexão.
Ao longo da sua história, a Igreja passou por vários surtos das mais impiedosas doenças e a sua atitude foi praticamente a mesma através dos santos que Deus Nosso Senhor suscitava nesses tempos.
Primeiro, a Igreja reconhecia a epidemia como um castigo de Deus. Sim, castigo. Essa palavra hoje é quase um palavrão, mas para a Igreja o castigo de Deus é uma manifestação terníssima de sua misericórdia. O homem, por si mesmo, excluindo-se da graça pelo pecado, só é capaz de enterrar-se ainda mais no pecado. As doenças físicas nada são se comparadas com as doenças da alma, por isso, ao permitir um avanço de uma moléstia, Deus faz com que lembremos que a vida é breve, que somos frágeis, e que, para além dessa vida, sempre passageira há uma outra que, se não nos convertermos, será de castigo para sempre. As doenças passam, ou pela cura, ou pela morte, mas o pecado não passa com a morte, ao contrário, depois dela ele mostra todo o seu horror, toda a sua vileza, e a alma cai para sempre no inferno.
Segundo, uma vez que se trata de um castigo, temos que pedir perdão. Organizavam-se então celebrações implorando a misericórdia de Deus, especialmente através do Santo Sacrifício da Missa, do uso dos Sacramentais e, especialmente através de procissões penitenciais. Nessas procissões alguns faziam penitências públicas, outros carregavam imagens de Nosso Senhor, de Nossa Senhora ou dos santos ou suas relíquias, para que a presença das coisas santas afastassem para longe o mal. Quantas imagens até hoje são veneradas pelo povo fiel justamente por terem posto fim a pestes e epidemias por onde passaram!
Terceiro, ir até os doentes para proporcionar-lhes conforto espiritual e material. Assim, S. Francisca Romana, que hoje celebramos, S. Carlos Borromeu, S. Vicente de Paulo, S. João Bosco com os seus meninos do oratório, e nessa proximidade com os doentes, alguns milagrosamente não se contaminaram. Outros morreram justamente por contagiar-se com a doença que foram buscar curar, como é o caso do menino S. Luiz Gonzaga...
Os santos entendiam a necessidade material dos enfermos - lembremos o caso daqueles que eram "emparedados" vivos em suas casas, ou simplesmente abandonados para morrer logo e sozinhos,  e mais ainda a necessidade de conforto espiritual através da confissão, da unção dos enfermos e da Santíssima Eucaristia.
Mas algo mudou.
Eu penso que talvez o caso mais recente dessas obras a que me referi tenha sido S. João Bosco. Turim é assolada por uma grave doença e terrivelmente contagiosa, ninguém quer dar assistência aos doentes. Dom Bosco reúne os seus meninos e lhes promete que se se mantiverem puros e perseverantes na oração nenhum deles será contaminado, e assim se fez. Os meninos de Dom Bosco tiveram contato direto com os pobres doentes, prestaram-lhes mil serviços, Dom Bosco dava-lhes os sacramentos, e nenhum deles contraiu a doença.
Hoje, quase duzentos anos depois, parece-nos haver uma visão diferente na Igreja. Temos uma doença. Cada um por si, Deus por todos. Sem missa, ou sem água benta, ou comunhão na mão para não contaminar...
E há ainda quem brinque com isso, com figurinhas que mostram o padre jogando a hóstia com um metro de distância para que caia na boca do fiel...
Algo mudou.
Não tenho coragem de dizer o quê...
Mas algo mudou.
Talvez as atitudes dos Santos hoje seria considerada falta de prudência, ou mesmo tentar a Deus.
As epidemias não são castigos, aliás castigar o quê se quase não existe pecado,  quem iria castigar, uma vez que Deus se tornou um Papai Noel de Shopping...
Algo mudou...
E mudou demais.
Mudou muito.
Lágrimas, outrora dom, são besteira. Modéstia, outrora necessária agora é escrúpulo inútil. Silêncio e respeito se tornaram sinais de falta de alegria...
Parce, Domine! Parce populo tuo: ne in aeternum irascaris nobis!



Comentários

  1. Senhor, misericórdia do seu povo tão pecador. Precisamos de vós, mas de Ti nos afastamos.

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