POVOADO

O Evangelho de S. Marcos, mais antigo dos Evangelhos e que ele escreve ouvindo a pregação de Pedro, traz aquele frescor, e também aqueles enigmas que surgem naturalmente do encontro entre o céu e a terra.
No texto de hoje, Jesus ordena ao cego curado em duas etapas que não entrasse no povoado.
A cura em duas etapas do cego pode ser entendida como o fato de que o Senhor por vezes, na maior parte das vezes, age aos poucos em nós. Não tanto porque ele deseje fazer assim, mas porque nossa abertura à graça nem sempre é plena num primeiro momento.
A conversão é um "tratamento", não é um "boom", uma mágica.
Geralmente há aquele primeiro momento, mais forte, mais marcante. Mas que é só o início, ou o momento em que "oficialmente" abrimos as portas ao Redentor.
E quanto à ordem de não entrar no povoado?
Aquele que se encontra com Cristo, não volta pelo mesmo caminho. Não volta à mesma vida.
Tal como os magos retornam por outro caminho, assim Jesus ordena a que o cego não voltasse para o povoado.
Jesus sempre ordena isso?
Não.
Ao possuído por legião, Jesus ordena que fique junto dos seus (que estavam mais preocupados com os porcos do que com ele...), e ele se torna um evangelizador ali. Também a mulher samaritana do Evangelho de João continua lá, anunciando  a boa-nova aos seus próximos.
Irmãos queridos, a uns Jesus manda ir, a outros ficar. É como o médico que a um manda tomar vinho e a outro tomar água...
Que saibamos descobrir o nosso lugar!
Essa é a grande interpretação dessa atitude de Jesus?
Não. Ocorreu-me hoje meditando a Palavra.
Se você pensar outra coisa, ótimo!
A Palavra de Deus é como uma fonte: eu bebo, você bebe e ele continua jorrando para saciar outras sedes. O belo na Palavra de Deus não é esgotar a fonte - o que seria terrível - mas beber, saciar a sede e deixar escorrendo essa água fresca e viva da Palavra de Deus.

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