FREI JAQUELINE

Ok, eu sei que preciso explicar um pouco.
O nome Tiago é a forma aportuguesada do nome Iacobus que é forma latinizada do nome Jacob.
Em Francês, o equivalente de Thiago seria Jacques.
Nós não temos Tiaga (parabenizo todos os pais por não serem criativos a esse ponto), mas temos Jacqueline, que é forma feminina francesa de Jacques.
Em italiano, o nome Tiago seria Giácomo, e Giácoma, a sua forma feminina.
E há uma Beata com esse nome. Li num martirológio que hoje seria seu dia. Depois não encontrei mais nada... Por fim, julguei que poderia nos fazer bem pensar nessa santa mulher, que chamaremos de Jacqueline.
Penso que temos três grandes mulheres na vida de S. Francisco, com cada uma S. Francisco desenvolve uma característica do amor.
Sua mãe, Clara e Jacqueline.
Para com sua mãe, Francisco estabelece a relação de amor filial ao extremo. Não se fala tanto nessa grande mulher que foi a mãe de S. Francisco, mas quando S. Francisco diz que seus frades deviam comportar-se como "mães" uns dos outros, percebe-se que para Francisco é o ideal de amor terreno  mais alto, a maternidade.
Já com Clara, Francisco estabelece a relação de Pai. Ela é (assim se refere ela mesma) a plantinha que Francisco plantou e cultivou. Aquela imagem romântica de dois jovens apaixonados um pelo outro não corresponde à realidade, quando Francisco inicia a sua conversão, Clara ainda era uma criança, e quando se dispõe a seguir os passos de Francisco, ele a põe num mosteiro beneditino, como que aprendesse a ser freira, e depois a transfere para a clausura preparada em S. Damião, tendo vez por outra algum colóquio com ela, para incentivá-la e formá-la nos passos da vida franciscana.
E há uma terceira mulher.
Pelo que me lembro nunca a vi em nenhum filme sobre S. Francisco. Mas nem a morte os separou, porque ainda hoje ela está junto ao seu túmulo, refiro-me a Giacoma de Settesoli, ou como gostava de chamá-la S. Francisco, Frei Jacopa.
Com ela Francisco vive um vínculo de amor fortíssimo de amizade.
Essa amizade era fruto da pureza do coração de ambos, ela uma viúva de grande vivência religiosa, ele, um Arauto do Grande Rei. Foi quando foi a Roma que Francisco a conheceu e a partir dali pode também a ela ensinar o caminho da vivência pura e simples do Evangelho, sem que ela precisasse deixar o mundo, mas continuasse no mundo como testemunha viva do Evangelho de Jesus e de Francisco. 
Uma particularidade era o gosto que S. Francisco tinha por um certo doce chamado mostaccioli do qual pede que ela leve para ele em sua última visita, em Assis, já no  momento de sua morte. 
Essa luminosa mulher (seu sobrenome) significa "sete sóis", sete vezes o sol..., mostra-nos que nenhum amor é amor se não estiver firmado nessa fraternidade que gera amizade. 
Francisco vive a amizade com Jaqueline de uma forma tão intensa que para ele o fato de que fosse mulher não assume a menor importância. Por isso, rompe todas as barreiras dizendo que era não uma mulher que entrava na clausura, mas "o frei" Jacqueline, o irmão Jacqueline.
Queridos amigos, na gênese da falta de pureza em nossos relacionamentos, mesmo aqueles mais santos, como marido e mulher, está o esquecimento dessa fraternidade que nos une. Francisco não deseja Jaqueline, porque para ele, ela é sua irmã, ou seu irmão, tanto faz.
Não serão regras duras que restituirão ao mundo a beleza do amor, se elas não estiverem ligadas a essa visão de fraternidade humana. De que somos irmãos, e que não podemos nos esquecer disso jamais. Quando um jovem se apaixona uma jovem, e vive com ela essa fraternidade que os une como seres humanos, naturalmente respeita seu corpo e o dela. A castidade nasce dessa visão.
Quando marido e mulher se enxergam por essa ótica, não existe o mais importante, mas se compete para ver quem ama mais.
Que essa bem-aventurada tão desconhecida e esquecida, nos lembre que somos "frate", irmão, de todos e de tudo.

Comentários