FRÁGIL

"Vossa misericórdia sustenta a fragilidade, e nos faz testemunhas de Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso". Assim diz a Santa Liturgia no Prefácio dos Mártires.
A fragilidade humana, não é a inexorável morte... Mas a luta contra ela.
Lutamos constantes contra a morte.
É o desejo de permanecer vivo que move o ser humano, o protege, o faz avançar cada vez mais nas sendas da ciência e do bem-viver. É a luta para ficar vivo que desde os tempos remotos faz a humanidade caminhar.
O mártir é aquele que pela graça divina, consegue andar no caminho contrário. É aquele que não deseja a morte, ou até a deseja, como estrada para o Cristo Senhor.
Em certo sentido, a Igreja venera com mais devoção aqueles mártires mais frágeis, especialmente crianças e adolescentes que, numa idade em que é comum terem medo de escuro, enfrentam a morte. E vencem.
Não vencem a morte, permanecendo vivos. Vencem a morte, morrendo pelo Imortal.
Assim é essa santa jovem cuja memória hoje celebramos. O ideal cristão que apresenta o Cristo numa dimensão esponsal para com a Igreja, traz à luz o ideal da Virgindade Consagrada. A Virgem Consagrada, não é a solteirona. É a esposa de Cristo. Ela não abre mão nem do matrimônio nem da maternidade, mas os vive em relação à Cristo e à Igreja.
Santa Águeda, no início de sua adolescência decide consagrar-se ao Senhor. Mas isso não fez com que perdesse seus naturais encantos, tendo vários pretendentes. Um deles ao descobrir que era cristã a denuncia às autoridades. O prefeito teria o poder de confiscar os bens e de condenar a morte os cristãos. Ao confiscar os bens, e Águeda era de nobre família, enriquece-se a si mesmo o prefeito, mas também era sua função fazê-la rejeitar a fé. De todos os modos, ora com aparente amizade, ora com ódio desvelado ele exerce sobre a jovem a sua força para que ela renunciasse a Cristo e adorasse aos deuses.
Também sabendo de sua virgindade consagrada, o prefeito a colocou durante dias com uma das mais famosas prostitutas da cidade, para que ela convencesse a virgem, a não renunciar somente a seu Deus, mas a seu Esposo Divino.
Nada conseguiram.
Quanto mais fracassos, mais ódio.
O prefeito então manda que os seios da virgem fossem triturados e arrancados com ferros em brasa.
A que ponto pode chegar a maldade!
A própria esposa de Cristo não conteve sua surpresa diante de tal tortura e recriminou o prefeito por mandar destruir o que em outra mulher lhe havia servido de sustento.
E foi feito como ordenado.
Após o suplício, a virgem foi levada para o cárcere, para que morresse lentamente de dores e hemorragia. Mas, São Pedro, acompanhado do Anjo da Guarda de S. Águeda, a visitaram milagrosamente na prisão e curaram suas feridas.
Ao ser apresentada novamente, viva e bem ao prefeito, este ordenou que fosse arrastada sobre ferros em brasa e cacos de vidro. 
Águeda ouve a sentença e renova sua entrega a Cristo Senhor, seu Esposo. Enquanto sofria o martírio, o vulcão Etna entrou em erupção e através dos terremotos e soterramentos advindos da erupção, a Virgem e Mártir Águeda pode encontrar-se para sempre com seu amado.
Tudo isso aconteceu em Catânia na Sicília, em 05 de fevereiro de 251. 
Por causa de seu grande amor para com a Sicília, S. Gregório Magno quis que o nome de duas mártires sicilianas fosse recordado em cada missa e por isso, inscreveu-as no Cânon, tendo ali então o nome de 7 mulheres, sendo duas sicilianas: Águeda e Luzia, a última era devota da primeira.
Que bela é a história da nossa Igreja!
Quando querem dizer que a Igreja sempre pôs a mulher em segundo plano.
Mas como não ver a honra que a Igreja cercou a mulher ao longo de sua história: santificando a vida conjugal e a maternidade e abrindo o caminho para a união esponsal com o próprio Deus feito homem, ver a delicadeza de pôr sete (número que traz em si todas as outras) na principal oração que é o Cânon da Missa... como entender a mulher menosprezada na Igreja? Jamais!
Aliás, muitas vezes acusam a Igreja de adorar e fazer de deusa exatamente uma mulher: Maria. O que não é verdade, só dizemos que mais do que Ela só Deus, o que é bem diferente. Ou seja, para a Igreja a criatura humana mais perfeita que existiu foi exatamente uma mulher.
Queridos amigos, a fragilidade encanta a Igreja como a beleza do corpo encanta o mundo moderno. O que sente o mundo moderno diante de um "corpo sarado", sente a Igreja diante daquilo que é pequeno e frágil, mas que pela graça de Deus, como o grão de mostarda, se torna uma árvore imensa onde os pássaros podem abrigar-se.
Abriguemo-nos hoje nessa frondosa Águeda! Peçamos a sua intercessão, especialmente pelas mulheres que sofrem com o câncer de mama e aprendamos a sermos fiéis a esse Esposo Divino que nos amou até o fim.


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