SECUNDARIOS

Celebramos hoje a festa de S. Sebastião, mártir. A Igreja o apresenta como defensor dos cristãos, seria ele o soldado a recolher o corpinho dilacerado de S. Tarcísio e que teria em muitas outras ocasiões defendido e protegido os cristãos, seus irmãos.
Fala-se muito hoje em resiliência, essa palavra personifica-se no mártir que deixou as fileiras do César para alistar-se nas de Deus. Seu olhar sofredor mas confiante, as flechas que traspassam seu corpo... resiliente.
Sabemos, porém que ele não morreu ali.
Os soldados não o deixaram morto, mas o deixaram sangrando perfurado de flechas para que dolorosamente sua vida se esvaísse. E foram embora.
Nesse ínterim chega uma atriz coadjuvante nesse teatro da vida: Irene.
Foi para recolher o corpo. Trouxe porém um moribundo.
Cuidou dele. Em certo sentido, devolveu-lhe a vida.
Essa mulher encarna tantas obras de misericórdia: tentou sepultar um morto, mas cuidou de um enfermo, acolheu um estrangeiro, vestiu um nu, suportou as fragilidades de outro...
Irene.
Que quer dizer paz.
Quem ama, quem cuida, sempre tem paz.
E transmite paz.
Depois, S. Sebastião apresenta-se ao Imperador. Mostra-se curado por Deus, quando na verdade, foi cuidado por Irene. O Deus da Paz, que é o Deus de Irene, a usou como um instrumento secundário nessa história para que o valente soldado mais uma vez entrasse no campo de batalha, e saísse dela como Cristo: Victor, quia victima... Vencedor, porque se fez vítima. Morre e vence o soldado de Cristo.
Talvez a maior parte dos devotos de S. Sebastião admiram a sua resiliência, desejam suas graças, pedem sua intercessão... são os nossos pedidos.
Mas e ele?
Será que não vê como falta Irene nesse mundo?
Como falta paz, porque faltam construtores de paz através da misericórdia.
Irene foi secundária na história de Sebastião. 
Nós nem sempre estamos no papel de protagonista, mas sempre podemos ser paz para alguém.
Talvez ele deseje que sejamos como ele - invicto soldado de Cristo. Que glória!
Mas também nos convida, mostrando suas flechas e chagas nas chagas e flechas de nosso povo, que não nos esqueçamos de Irene.

Comentários