RICO

Pouco depois de seu nascimento, Francesco Forgione, futuro S. Pio de Pietrelcina, foi visto por uma senhora que, como diziam, via o futuro. Ao ver o neném, ela sentenciou: "Pelas suas mãos passarão rios e rios de dinheiro, mas ele continuará sempre pobre."
Algo semelhante se podia dizer de S. João Bosco.
Nascido pobre, foi com muito custo aceito ao Seminário. Naquela época era comum dizer que se fazia carreira eclesiástica (ainda hoje, muitos pensam assim), assim, ser padre era, de certo modo, um investimento. Pagava-se geralmente o Seminário durante anos, mas dependendo dos cargos que se conseguiria após a Ordenação o retorno seria muito maior.
Assim, aconteceu com Don (como se chamam os padres seculares na Itália) Bosco. Mal saiu do seminário recebeu várias propostas de trabalhos pastorais, onde sempre se falava de uma gorda remuneração. Ser capelão ali, vice-pároco acolá, preceptor dos filhos de algum nobre...
Mas, ao mesmo tempo recebeu uma outra proposta de uma senhora chamada Margarida, sua mãe, que lhe disse: "Se ficares rico, nunca pisarei em tua casa".
E rico, nunca ficou...
Mas pedia. E como pedia. Pedia aos nobres e aos pobres que contribuíssem não só com os oratórios festivos (dias de oração, comida e brincadeira), mas também com as oficinas de aprendizes e com as Igrejas que quis construir, dentre as quais duas basílicas.
Pedia. Devia. Pedia. Mais um prazo. Outro empréstimo... E assim foi a vida de Don Bosco. Quando seu futuro sucessor começou a ocupar-se dessas contas, caiu doente, exausto e... desesperado.
E assim vivia Don Bosco.
E assim sonhava.
A palavra sonho para Don Bosco, vai mais além para o que imaginamos no momento do sono. Era, tal como S. José, o modo habitual de Deus comunicar-se diretamente com ele. Através deles, aprendeu que não seria com socos que tornaria as pessoas melhores, aprendeu que combateria sob o auxílio da Virgem Maria, aprendeu que a Igreja precisa estar segura entre as colunas da Eucaristia e de Maria Santíssima, junto com o Santo Padre, alegrou-se com a presença de Domingos Sávio e tantos outros filhos seus que já estavam no Paraíso, e soube até onde estaria a sua imagem na basílica de S. Pedro...
Mas sempre pobre. A sua figura com uma batina de corte bem simples, uma capa para aquecer-se do frio e o barrete na cabeça, já nos dá a idéia de vermos um pedinte, e assim era.
Certa feita, o Papa Pio IX propôs-lhe dar algum título, monsenhor talvez... Mas Don Bosco, com todo o respeito, disse ao Papa ter medo de que as pessoas ao o verem vestido com os trajes chamativos das honrarias achassem que ficou rico e deixassem de dar dinheiro.
Com um grupo de jovens funda uma Sociedade dedicada a São Francisco de Sales, daí o nome, Salesianos. E com Maria Dominga Mazarello, uma jovem absurdamente abnegada que louvava infinitamente a Deus quando podia simplesmente fazer uma panela de polenta, fundou as Filhas de Maria Auxiliadora.
Ambas as Congregações dedicadas a educação de crianças pobres: meninos os salesianos, meninas as Filhas de Maria Auxiliadora.
Sua visão profética, que referiu-se até ao Brasil, nem sempre era compreendida. Pensemos do lado dos opositores: um padre, filho de camponeses, sem um centavo no bolso, devendo até as calças, que na noite anterior sua mãe pegou a toalha do altar para cobrir um menino recém-chegado, olha um lodaçal e diz que ali se erguerá uma basílica em honra de Maria Auxiliadora e cujo retábulo será tão grande que dificilmente se encontrará um lugar onde possa ser pintado...
Louco.
Santo.
Santidade e loucura sempre foram muito parecidas, ou talvez até mesmo a mesma coisa... São Paulo fala da loucura da cruz...
Por fim, meus amigos, queria meditar brevemente nas devoções de Dom Bosco à Maria. Num primeiro momento, seu carinho se manifesta mais forte a Nossa Senhora da Consolata, depois à Imaculada Conceição, mas a devoção de sua maturidade até a morte foi Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos ou Nossa Senhora Auxiliadora.
Esta invocação foi introduzida na Ladainha pelo Papa S. Pio V, que milagrosamente viu (embora estivesse à milhares de quilômetros) a vitória absoluta de uma minoria cristã sobre um grandíssimo exército muçulmano. O Papa atribui essa vitória à intercessão de Maria que auxiliou as tropas cristãs.
O título de Auxílio dos Cristãos, meus amigos, tem uma conotação épica: lembra-nos que estamos em batalha. E Don Bosco foi um general nessa batalha: criou os oratórios para reunir os jovens que os párocos não estavam nem aí para cuidar, exigia-lhes; sim era essa a palavra, nada menos que a santidade; criou escolas de aprendizes para inserir os jovens desempregados no mercado de trabalho, coisa de que se ocupava pessoalmente, exigindo do patrão o respeito e a justiça para com o jovem operário, criou o apostolado da boa imprensa, distribuindo panfletos que enaltecessem a fé católica, numa época em que o Papado era visto como um inimigo da unificação da Itália, e escreveu livros de história para que os jovens não fossem contaminados com teorias anti-cristãs; construiu Igrejas para que se rezasse bem, deixou congregações que continuariam seu trabalho, uniu os leigos à sua obra para que pudesse espalhar-se em todos os lugares da sociedade.... e mais uma lista bem longa.
E passando (às vezes) rios de dinheiro pela sua mão, sempre tomou o cuidado de manter-se pobre.
E eu, pelo Senhor, com o auxílio de Maria Auxiliadora já fiz...

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