ENTREGAVA

O Santo Evangelho não se limita em dizer que Jesus simplesmente rezava. Geralmente em torno da oração do Senhor há sempre algo que dê uma idéia de superlativo, no caso de hoje S. Lucas diz que Nosso Senhor "se entregava" à oração.
A oração não seria para Nosso Senhor um mero cumprimento de dever, uma obrigação... N'Ele a oração se torna uma necessidade vital, um desejo constante de encontrar-Se com o Pai. Embora, em momento algum Nosso Senhor deixou de gozar da visão beatífica. Esteve sempre unido ao Pai e ao Espirito como Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, mas na sua Humanidade busca a oração como encontro com Aquele que de quem jamais se apartava.
Entregava-se à oração.
Bento XVI recorda a oração como uma arte.
Os artistas geralmente já têm uma predisposição para determinada arte, a qual se desenvolve com o passar do tempo, geralmente com o auxílio de mestres, até que possa chegar a uma arte madura e perfeita.
Desse modo, todo ser humano já nasce com o coração que tende para Deus. Voltar-se para Deus, contemplar a Sua beleza nas coisas criadas, é próprio do ser humano. E esse pensamento, essa inclinação já são uma forma bem incipiente de oração.
Porém, é necessário desenvolver essa arte: é o momento em que a criança, geralmente sob a benéfica influência de seus pais, começa a aprender a falar com Deus, geralmente através de fórmulas que recebemos da Sagrada Escritura ou da Tradição Cristã, aprende-se as orações como o persignar-se,  Padre nosso, a Ave Maria, o Gloria...
Essas orações, embora sejam fonte inesgotável de espiritualidade e meditação, não são um fim em si mesmas, mas devem fazer com que a alma se eleve ainda mais a Deus. A oração apoiada na Tradição da Igreja nos delineia a Pessoa mesma de Deus, ao ponto que orar também é conhecer mais a Deus e conhecendo-O podemos nos dirigir a Ele de maneira mais adequada.
Há o momento em que também pode ser bom para a alma descobrir um caminho mais específico de oração, dentro das inúmeras espiritualidades que a Igreja nos oferece, e seguir os ensinamentos dos grandes mestres que são os Santos.
Às vezes pode acontecer que um conselho de um santo contradiga o de outro.
Assim é, porque as almas são diferentes entre si, mais do que isso, são únicas.
O mesmo médico a um paciente manda que tome vinho, a outro manda que tome água, de acordo com a situação de seus corpos; assim, a oração é um caminho quase único, cabe ao fiel encontrar um caminho que mais o satisfaça e aproxime de Deus, sem deixar de ter a sua própria identidade nessa relação que a oração cria.
Como arte também, podemos considerar que nem sempre a oração "sai" como desejávamos. Nem sempre o artista "está inspirado". Nesse ponto, nos distanciamos da comparação com a arte, porque um artista pode ficar meses sem exercer sua arte e depois voltar com mais "inspiração", já nós não podemos ficar um dia sem a oração, porque se assim fazemos, nossa alma se atrofia e o nosso amor a Deus diminui.
Se alguém se alimenta bem durante um tempo, pode ficar talvez um ou dois dias sem alimentar-se, mas depois o organismo não aguenta. O certo é comer uma certa quantidade diariamente, preferencialmente espaçando os momentos de comer...
Assim também é a oração. Quem reza bem, pode até conseguir viver com alguma virtude sem rezar por um tempo, mas depois a virtude se transformará em máscara. O certo é que rezemos todos os dias, e se possível várias vezes.
Por exemplo: dizem que a refeição mais importante é o café da manhã. Talvez para muitos fiéis a manhã, antes de todo mundo acordar, seja o melhor momento para a oração. Para traçar os propósitos do dia, para entregar a Deus as atividades e as preocupações, ler a Bíblia, rezar o terço... Se pela manhã é bom comer uma fruta, podemos, pela manhã, rezar uma pequena oração à Nossa Senhora... (Memorare, Sub tuum praesidium...)
O almoço também é importante. Para a vida de oração, o meio do dia é um momento em que além de nos lembrarmos do Verbo feito carne, através do Angelus, podemos ver como estamos vivendo aquele dia até aquele momento, e tentar consertar o que não foi de acordo com a vontade de Deus.
Se pela tarde, se pode comer um biscoitinho; também podemos ir mentalmente (imaginar) ao sacrário de nossa paróquia e, mesmo à distância, visitar a Nosso Senhor que lá está.
O jantar, segundo muitos, deve ser sóbrio. Também à noite, necessitamos rezar. Ver como foi o dia, pedir perdão pelas faltas cometidas e pedir graças para sermos melhores. Não é necessário muito tempo, poucos minutos.
Muitas famílias têm o costume de rezar o terço juntos. Deus abençoe esse santo propósito.
E assim, vamos crescendo nessa arte da oração para agradarmos ao Senhor que embora não necessite dos nossos louvores, nos dá o dom de O louvar.

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